Senado Pizzaria, que fica em Brasília, na Asa Norte, não distante do Congresso Nacional| Foto: André Golçalves/ Gazeta do Povo

Se bater aquela fome em Brasília e o dinheiro estiver curto, há uma boa solução: a Senado Pizzaria. Não é piada, o lugar existe mesmo. Fica na Asa Norte, a seis quilômetros do Congresso Nacional, tem tele-entrega e um preço realmente camarada (a pizza de mussarela e presunto sai por R$ 9,99).

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Outro tipo de pizza, bem mais indigesta para o público em geral, costuma ser produzida em um estabelecimento quase homônimo na Praça dos Três Poderes. Entre os ingredientes, os parlamentares-pizzaiolos costumam usar fatias generosas de corporativismo e dissimulação. O toque especial, contudo, é o segredo.

O Senado brasileiro completa neste mês 186 anos de existência com apenas uma cassação por quebra de decoro parlamentar. O episódio ocorreu há 12 anos e o agraciado foi Luiz Estevão (PMDB-DF), acusado de envolvimento no desvio de R$ 169 milhões das obras do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo. Os colegas entenderam que ele quebrou o decoro porque mentiu ao negar sua relação com o esquema.

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Estevão foi cassado por 52 votos – houve outros 18 contra e dez abstenções. Como a Constituição manda que esse tipo de votação seja secreta, não há como saber ao certo quem votou como. Para refrescar um pouco mais a memória, vale lembrar que a informação era tão valiosa que o senador baiano Antonio Carlos Magalhães e o deputado brasiliense José Roberto Arruda (ele mesmo), ambos do então PFL (hoje DEM), foram flagrados em uma jogada para violar o sigilo da sessão e acabaram tendo de renunciar para também não perderem o mandato.

Sete anos depois, Renan Calheiros (PMDB-AL) enfrentou dois processos de cassação em plenário, gerados a partir de denúncias de que um lobista pagaria a pensão de uma filha dele fora do casamento. Escapou duas vezes, mas precisou renunciar à presidência da Casa. Novamente, ninguém soube como votaram as excelências.

Em 2009, aconteceram casos em que a pizza nem chegou a entrar no forno. De uma só tacada, o Conselho de Ética arquivou 11 representações contra o presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP). E ficou tudo por isso mesmo.

O caso mais recente veio de uma pizzaria vizinha ao Senado. Em agosto do ano passado, a Câmara dos Deputados absolveu Jaqueline Roriz (PSC-DF) da acusação de quebra de decoro por ter recebido dinheiro do delator do mensalão de Brasília, Durval Barbosa. Mesmo com toda cena filmada, os deputados interpretaram que ela não poderia ser punida por uma atitude anterior ao atual mandato (as imagens são de 2006). Foram 265 votos a favor de Jaqueline, 166 contra e 20 abstenções.

Há indícios de que nesta semana uma nova fornada, à moda goiana, começa a ser produzida no Senado. A partir de amanhã, começam para valer os trâmites do Conselho de Ética que podem abrir o processo de cassação de Demóstenes Torres (ex-DEM) pelo envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Demóstenes tem apostado suas fichas na tradição dos colegas de contemporizar.

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O palpite geral, no entanto, é que desta vez a pizza não sai. Ninguém quer correr o risco de se queimar – pelo menos no Conselho de Ética, onde a decisão é tomada às claras. Já no plenário, sempre dá para contar com aquele segredinho.

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