Nos corredores

Água no champanhe

Deputado federal e sobrinho de Roberto Requião, João Arruda (PMDB) diz que presenciou um telefonema em que Ricardo Gomyde (PCdoB) ligou para o tio para dizer que tinha fechado o apoio dos comunistas à candidatura do senador. "Falou até em tomar um champanhe juntos", diz. Horas depois, Gomyde fechou com o PT para ser candidato a senador na chapa de Gleisi Hoffmann.

Caras-pintadas

Na última vez que venceu uma eleição, em 1994, Gomyde se beneficiou do rescaldo dos caras-pintadas, estudantes que foram às ruas pedir o impeachment de Fernando Collor. Dois colegas da época de movimento estudantil já são senadores, Lindbergh Farias (PT-RJ) e Randolfe Rodrigues (PSol-AP).

Reforma possível

Candidata a vice na chapa de Requião e integrante da comissão que discutiu a reforma política na Câmara, a deputada federal Rosane Ferreira (PV) disse ter ficado convencida que a primeira mudança nas regras eleitorais deve ser o fim das coligações nas disputas proporcionais (para deputado). "É o que deixa tudo mais difícil na montagem de qualquer chapa."

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Há dois tipos de torcedor de futebol: aquele que escolhe o time por afinidade (familiar, geográfica, etc.) e o que torce para quem ganha. É mais ou menos o que acontece com os políticos nas eleições. Existe um grupo (pequeno) que apoia candidaturas por semelhanças ideológicas e outro (enorme) que só se dispõe a ficar do lado de quem tem maiores chances de vencer.

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A montagem das chapas para a disputa presidencial e o governo do Paraná em 2014 mostra bem como essa lógica funciona. Dos 17 partidos que compõem a coligação de Beto Richa (PSDB), quatro estão na de Dilma Rousseff (PT) e outros quatro na de Eduardo Campos (PSB). Ou seja, metade dos aliados do governador entrou num barco no estado e noutro em Brasília.

Sim, eles só pensam naquilo: um pedacinho de poder, seja na administração estadual, federal e, se pintar uma brecha, até na planetária. Como defesa, há quem diga alianças são toleráveis, já que o Brasil é uma federação e uma mesma legenda pode ter diferenças de visão regional e nacionais. A tese, inclusive, derrubou a verticalização das coligações, experimentada no país em 2006.

Analisada de perto, é a mais pura ladainha. Em primeiro lugar, porque Richa passou toda gestão em guerra com o governo federal, antevendo um confronto com a ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT). A estratégia tucana não deixou brecha: ou você está de um lado ou de outro.

Além disso, os quatro partidos que apoiam Dilma e Beto ao mesmo tempo têm as executivas estaduais presididas por deputados federais. Nelson Meurer comanda o PP, Eduardo Sciarra o PSD, Fernando Giacobo o PR e Cida Borghetti o Pros (a parlamentar é ainda candidata a vice na chapa de Richa). Ou seja, eles votam a favor da administração petista no Congresso Nacional e, no Paraná, dão suporte a um candidato que diz que essa mesma gestão persegue o povo paranaense.

Do outro lado, Beto conseguiu ainda o apoio do PHS, PPS, PSL e PSB, quatro dos seis partidos que compõem a coligação de Eduardo Campos. O próprio presidenciável foi ao Paraná antes das convenções para avalizar o apoio do PSB ao governador. Com isso, Campos aceitou ser a opção número dois do tucano (a primeira, claro, é Aécio Neves) e inviabilizou a candidatura do deputado federal Rubens Bueno (PPS), que daria palanque exclusivo ao socialista no estado.

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Engana-se quem pensa que há santo nessa história. Dilma apanhou o tempo inteiro dos aliados no Congresso e demitiu ministros de PMDB, PDT, PR, PCdoB e PP por suspeitas de corrupção. No frigir dos ovos, não dispensou o apoio eleitoral de nenhum deles – muito pelo contrário, fez ainda mais concessões.

Seria muito prático encerrar a análise dizendo que tudo isso se resolveria com uma reforma política para disciplinar as coligações. A experiência da verticalização mostra que os caciques partidários dariam um jeito de subverter tudo de novo. Mais eficaz seria uma reforma pelas urnas, tirando poder daqueles que topam qualquer parada para se manter nele.

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