Escândalo político no Brasil é algo tão dinâmico que é fácil perder as contas. Uma pena, porque o número de casos em si já merece reflexão. No ano passado, foram 108. Em 2010, 35.
O levantamento é do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de S. Paulo. Inventor do "monitor de escândalos", ele tem pescado tudo de ruim que acontece na política nacional. E a maior fonte de más notícias é o Congresso Nacional.
Em 2009, a lista começou com o uso secreto da verba indenizatória, passou pelo deputado que construiu um castelo em Minas Gerais e terminou com a Câmara bancando festas de Natal aos parlamentares. Neste ano, mesmo escaldados pelo escândalo das passagens, senadores já foram beneficiados com bilhetes extras; e a administração da Casa ainda continua com inacreditáveis 214 diretorias, incluindo a de garagens.
É tanto problema que fica injusto pedir que o eleitor não fique revoltado. Com o início de mais uma campanha, bate uma vontade quase incontrolável de dar o troco, avacalhar. Por isso tanta gente anula o voto ou pior, acaba escolhendo um dos tantos candidatos folclóricos que aparecem por aí.
Não foi à toa que Clodovil Hernandez (morto em 2009) tornou-se o deputado federal mais votado do Brasil em 2006. No rastro dele, dúzias de "celebridades" tentarão se eleger em outubro. Maguila, Tiririca e a Mulher Melão, entre tantos, também querem uma vaga na Câmara por São Paulo.
Personalidades que topam participar das eleições são recrutadas como puxadores de voto por partidos pequenos embutidos em grandes coligações. Pode engolir o sorriso, porque é aí que está a pegadinha. E você é o alvo da piada.
Tiririca, por exemplo, concorrerá pelo Partido da República, o PR. Na disputa paulista, a legenda integra a chapa "Juntos por São Paulo", que também conta com PRB, PT, PCdoB e PTdoB. Votar no humorista vai ajudar os candidatos de todas essas legendas.
Trocando em miúdos, digamos que você é um paulista indignado que jamais votaria em um petista. Em protesto, sua opção é o Tiririca. Ele pode não vencer e o gesto de rebeldia contribuirá, por exemplo, para a reeleição de José Genoíno (PT).
É por isso que votar não é brincadeira. Mesmo que pareça uma punição a determinados políticos, pode se transformar em um tiro no pé. Culpa do sistema eleitoral brasileiro e da desinformação.
Poucos se dão conta de que a escolha de um deputado estadual, federal ou vereador envolve primeiro a opção por um partido ou coligação. Portanto, não adianta apenas "fulanizar" a decisão, votar em alguém porque parece um bom sujeito. A legenda conta ainda mais que o nome, principalmente após a instituição da fidelidade partidária, em 2007.
A regra definiu que o mandato é do partido e não do político. Ou seja, o deputado que você elegeu deve obediência às decisões partidárias e não pode mudar de legenda sem justa causa. Pelo menos em parte, deve acabar a promiscuidade do troca-troca de partidos após as eleições.
A novidade deveria obrigatoriamente refinar os critérios de escolha para as eleições. Ao escolher um deputado, é preciso definir se você quer eleger alguém ligado ao governo ou à oposição, de esquerda ou de direita. Fazer graça na hora de votar só colabora para manter a incrível média de 2009, quando houve mais de um escândalo político a cada três dias.
Quem ri por último são os mesmos que continuarão nos fazendo chorar de raiva por mais quatro anos.
Nos corredores
Padrinho Alencar
O governador Orlando Pessuti (PMDB) cruzou na semana passada com o vice-presidente José Alencar (PRB) em Brasília e cobrou uma velha reivindicação do estado a votação da PEC 544/2002, que cria mais quatro Tribunais Regionais Federais (um deles em Curitiba). "Repeti que ele era o nosso padrinho nessa luta", disse Pessuti. O paranaense também ficou impressionado com a memória de Alencar. "Apesar de todos os problemas de saúde que enfrenta, ele não deixa passar nada."
Brasília, por que não?
Durante a passagem pela capital federal, Pessuti também deu pistas sobre seu futuro após o fim do mandato no Palácio Iguaçu. Perguntado se gostaria de se mudar para Brasília, respondeu: "É uma possibilidade". O governador é cotado para assumir alguma função em um possível governo Dilma Rousseff. A tendência é de algo ligado à organização da Copa de 2014.
Lula na Boca
Petistas e peemedebistas já fazem apostas em Brasília sobre a performance do presidente Lula no comício com Osmar Dias (PDT) marcado para a Boca Maldita no próximo sábado. A expectativa é superar o público que acompanhou o lançamento da candidatura de José Serra (PSDB), no mesmo local, em 6 de julho. Na época, Serra discursou em um megafone e teve como público os pedestres que passavam pela Rua XV. Poucos pararam para escutá-lo.
Deixe sua opinião