Ao mirar no ex-presidente Lula, a 24.ª fase da Lava Jato tirou os holofotes da etapa anterior, cujo principal alvo havia sido a empreiteira Odebrecht e o marqueteiro do PT João Santana. Mas o material apreendido na 23.ª etapa teria potencial para produzir ramificações da investigação que vão além do governo petista. Na sede da Odebrecht, foram coletados documentos citando políticos de vários partidos, inclusive da oposição. Pode se tratar apenas de contabilidade de doações eleitorais, já que a Odebrecht é uma das maiores financiadoras de campanhas do país. Porém, diante do modus operandi da construtora, acusada de bancar campanhas em troca de contratos públicos, há a especulação de que a Lava Jato não vai parar no governo Dilma Rousseff (PT).
Cotação
Um dos alvos de investigação da 24.ª fase da Lava Jato são as palestras do ex-presidente Lula – parte delas contratada por empreiteiras acusadas de envolvimento no esquema de desvio da Petrobras. Delegados e procuradores querem saber, primeiramente, se as palestras realmente ocorreram. O valor cobrado por Lula para participar dos eventos também está sendo investigado e o principal indício de superfaturamento é a comparação com o trabalho de outro ex-presidente brasileiro, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Palestra é um bem imaterial, não é possível claramente dar um valor. Mas eles [os valores cobrados por Lula] são, por exemplo, aparentemente superiores ao que o FHC cobrava”, diz o procurador do MPF, Carlos Lima.
“Mais caro do mundo”
Em seu discurso na sede do PT em São Paulo, Lula confirmou que se transformou no “conferencista mais caro do mundo junto com Bill Clinton [ex-presidente dos EUA]”. O petista destacou que sua assessoria faz questão de cobrar os maiores preços por palestra. “Paga quem quiser, contrata quem quiser”, disse. “Porque não somos pouca coisa. Eu não tenho complexo de vira-lata, eu sei o que fiz neste país. Eu vou orgulhar a autoestima desse povo”, justificou. Lula disse ainda estranhar que as pessoas não questionem que Clinton cobre US$ 1 milhão por evento, enquanto ele cobra US$ 200 mil. “Os vira-latas ainda batem palma”, completou.
Curioso
A lista de mandados de busca e apreensão da 24.ª fase da Lava Jato expedidos pela Justiça Federal pula do número 12 ao 14. Ou seja, não há ordem de busca e apreensão de número 13, o algarismo do PT. Coincidência ou não, um despacho do juiz Sergio Moro explica o erro: o mandado correspondente foi revogado, pois o endereço informado não foi confirmado.
Influência além da Petrobras
No depoimento que prestou à PF, o ex-presidente Lula foi questionado sobre nomeações realizadas em seu governo para cargos públicos. De acordo com o delegado Igor Romário de Paula, o esquema da Petrobras pode ter sido replicado em outros órgãos do governo federal. “Muito provavelmente se estendeu. A gente já tem os indícios do Ministério do Planejamento, do Ministério da Saúde, Eletronuclear. Infelizmente é um modelo de negócio que envolve corrupção para contratar com serviço público”, disse.
Vazamento
O procurador do MPF Carlos Lima criticou o vazamento de informações da Lava Jato, que “prejudicam as investigações e possibilitam a destruição de provas”. A Polícia Federal vai investigar duas situações: quem são os responsáveis pelo vazamento de informações da operação e se isso possibilitou a destruição de provas, como a força-tarefa suspeita.