Os candidatos a presidente do Brasil têm muita sorte. Falassem eles e elas para eleitorado mais exigente cortariam um dobrado no quesito discussão de programa de governo.

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No lugar de buscar o desaforo mais eficiente para desancar o adversário, seriam obrigados a encontrar o argumento mais consistente para convencer a população de que o gesto do voto vale mais a pena que o ato obrigatório.

Faltando duas semanas para as eleições a situação é a seguinte: a candidata que apresentou o programa de governo adapta as propostas ao sabor das conveniências e os outros dois evitam apresentar seus programas por escrito e em detalhes para evitar se comprometer e também não serem contestados.

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Isso tudo quer dizer que a campanha se desenvolve em torno de um ambiente meramente publicitário. Não há uma "troca" com a sociedade, mas uma tentativa de "venda" de produtos.

É possível que do ponto de vista do marketing político isso seja moderno, mas sob o aspecto da vida real não é um comportamento aceitável, embora aceito no ambiente em que vivemos.

Marina Silva divulgou seu programa de governo, sofreu críticas, recuou em relação a alguns pontos, outros ficaram em aberto à discussão pública de gente ligada à sua campanha e isso abriu espaço para que os adversários explorassem uma suposta inconsistência programática.

Temendo ser vítima do mesmo veneno, Dilma Rousseff e Aécio Neves optaram por adiar a apresentação por escrito de suas propostas, a fim de não se comprometer e assim evitar cobranças. Preferem divulgar suas proposições em "pílulas", ponto a ponto, no horário eleitoral, em entrevistas, em discursos, de maneira publicitária, na moldura que melhor lhes convier.

É um direito que os assiste, verdade. Mais: uma situação perfeitamente possível diante da passividade de um eleitorado completamente desinteressado por esse tipo de detalhamento programático.

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Pelo que se vê no movimento das pesquisas, gente mais afeita das arquiteturas publicitárias que já entregam mastigado o recado sem obrigar ninguém a ter trabalho de raciocinar a partir do escrutínio daquilo que poderiam propor os concorrentes a presidente.

A pobreza de espírito que se impõe é uma via de mão dupla. Uma situação consentida pelo eleitorado que por sua vez não reivindica o seu direito de saber o que pretendem fazer os seus candidatos.

Uso e abuso

A presidente Dilma Rousseff defendeu o uso do Palácio da Alvorada para as entrevistas que vem dando ultimamente, em contraposição a reparos feitos pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Toffoli.

Dilma argumentou que antecessores também usaram o Palácio e tem razão. É a residência oficial do presidente. Ela está no cargo, esta é uma das vantagens. O desequilíbrio reside no fato de que nunca como presidente Dilma se dispôs a falar à imprensa como agora quando é candidata.

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Não fala quando é de interesse da nação, mas fala – e muito a toda hora – quando interessa à candidatura. Este é o ponto a que se refere o ministro presidente do TSE.

Zigue-zague

Na sexta-feira, o governo estava "chocado" com o "erro gravíssimo" cometido pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios no que tange à evolução da desigualdade no país, segundo palavras da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para quem Dilma Rousseff havia ficado "perplexa" com o ocorrido.

No sábado, noticiário dava conta da demissão da direção do Instituto. No domingo, a presidente comunicou aos governados que na sua análise o que ocorreu foi um "erro banal".

E assim ficará tudo por isso mesmo.

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