Deve-se aos programas de humor e à mobilização dos humoristas a contestação de uma das mais graves distorções institucionais na Lei Eleitoral em vigor desde 1997: a abolição do exercício da crítica política no rádio e na televisão nos três meses que antecedem a eleição.
De lá para cá foram realizadas seis eleições, sendo três presidenciais.
Por isso os rapazes e as moças do humor já mereceriam assento junto aos idealizadores do projeto Ficha Limpa, numa hipotética premiação a iniciativas para melhorar os meios e os modos da tão antiquada política brasileira.
Posto o mérito, é preciso dispor alguns equívocos. Há desorientação e falta de informação na campanha, cujo primeiro ato público foi uma passeata na praia de Copacabana.
Delícia, mas é preciso falar mais sério e certo.
Muita gente ainda acha que a proibição atinge apenas os programas humorísticos e que é uma inovação da Justiça Eleitoral.
Os organizadores cometem seus deslizes. Abriram um abaixo-assinado para ser enviado ao ministro da Cultura pedindo a revogação da lei. Dizem que essa é a maneira de repetir a trajetória do projeto Ficha Limpa.
O veto a candidaturas de gente condenada por tribunal foi obtido pela aprovação de uma lei no Congresso, cujo projeto teve iniciativa popular. Nada a ver com o Poder Executivo, com ministros nem presidentes de autarquias.
Aliás, cumpre ressaltar que se dependesse do Poder Executivo o projeto não teria sido aprovado. Acabou sendo pela conjugação de dois fatores: a pressão social e a certeza de muitos congressistas e palacianos de que a lei não entraria em vigor neste ano ou seria derrubada na Justiça por inconstitucionalidade.
O caminho correto, portanto, é o Legislativo. Seja por intermédio de algum parlamentar ou mediante apresentação de projeto de lei com o apoio de 1 milhão de cidadãos.
A proibição, que fique claro, pois, não foi uma invenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas consta de uma lei aprovada em 1997 e que não visa apenas, mas também, a atingir os humorísticos.
Suspende de um modo geral a vigência do artigo da Constituição que assegura a liberdade de expressão, uma vez que proíbe que as pessoas jornalista, humorista, qualquer um façam juízo de valor sobre candidatos, partidos ou coligações.
Deu para entender? É proibido dar opinião. Talvez fosse o caso de pedir ao Ministério Público para entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade.
Excelente os humoristas terem aberto esse caminho. Só assim alguém além de jornalistas que sempre podem ser acusados de advogar em causa própria prestou atenção nesse aspecto da lei.
Por isso mesmo é necessário entrar na luta de modo correto, com as informações certas, para não acabar pedindo ajuda na casa do inimigo.
Partilha
Quanto mais as pesquisas mostram o favoritismo de Dilma Rousseff, mais abertamente o PMDB trata da divisão do latifúndio público federal.
No domingo o presidente do partido e candidato a vice de Dilma, Michel Temer, divulgou nota oficial negando essa intenção. Foi a terceira negativa nesse sentido no último mês. Nas primeiras duas vezes Temer desmentiu a si mesmo: em uma delas, disse que o PMDB seria "protagonista" no governo e, na segunda, discorreu a senadores a respeito do compartilhamento de espaços.
No lugar de divulgar notas à imprensa, mais eficaz seria Temer tentar conter o ímpeto da tropa.
Antigamente
Logo depois de eleito, em outubro de 2002, Lula fez um pronunciamento público em que, entre outros agradecimentos, dizia-se grato ao então presidente Fernando Henrique Cardoso por sua "imparcialidade" durante o processo eleitoral.
Segundo Lula, a conduta de FHC e a Justiça Eleitoral "contribuíram para que os resultados das eleições representassem a verdadeira vontade do povo brasileiro".
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