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Na hora H tudo aparentemente se ajeitou no PSDB. O partido deixou claro que, se a eleição presidencial fosse hoje e condições alheias à mera vontade permitissem, o senador Aécio Neves seria o candidato. Mas deixou patente também que não rasga voto nem pode abrir mão de José Serra, que já disputou e levou duas eleições presidenciais ao segundo turno.

Se a situação fosse simplesinha poder-se-ia descrevê-la assim: Aécio tem a preferência do partido, Serra tem presença na sociedade.

Aniquilar um em favor do outro seria ignorar o quanto são detentores de patrimônios complementares. Por isso, uma imprudência de resultado nitidamente previsível.

Frase precisa do deputado e ex-governador da Bahia Antonio Imbassahy: "Não podemos continuar fazendo dessa soma um déficit". Referia-se também ao fato de que ambos são fortes nos dois maiores colégios eleitorais do país, hoje governados pelo PSDB: São Paulo e Minas Gerais.

O ideal, dizia-se nas rodas de conversas na convenção nacional dos tucanos de sábado último em Brasília, seria que pudessem disputar e eventualmente governar juntos. Não fosse essa uma conjunção utópica, dadas as diferenças amazônicas que os separam e a carência de apreço pessoal mútuo.

Ante a impossibilidade objetiva, o partido optou por uma acomodação com vistas a adiar, e se possível evitar, um confronto mortífero.

A divisão ficou assim estabelecida: nos dois principais postos da Executiva, a presidência e a secretaria-geral, respectivamente um simpatizante e um aliado de Aécio: Sergio Guerra e Rodrigo de Castro. Na primeira vice-presidência, um serrista: Alberto Goldman.

Na presidência do Instituto Teotônio Vilela, um antipatizante de Serra: Tasso Jereissati. O ITV não decide, mas tem verba (uns dizem R$ 10 milhões, outros R$ 6 milhões por ano), presença – ou "capilaridade", como gostam de dizer os políticos – ampla em todo o país e uma tribuna.

No conselho político a presidência ficou com Serra, que conseguiu mudanças importantes: um colegiado enxuto, com poder deliberativo, verba (ainda não definida), endereço, estrutura e atribuições nada desprezíveis.

Será a instância onde se decidirão as diretrizes do partido, as formas de escolha de candidatos a todas as eleições e política de alianças, fusões e incorporação a outras legendas.

O poder é paralelo ao da executiva e ambos respondem apenas ao diretório nacional. O conselho é composto por Fernando Henrique Cardoso, na condição de ex-presidente da República, pelo atual presidente do PSDB Sérgio Guerra e o ex-presidente Tasso Jereissati, por Aécio Neves como representante do Congresso e por Marconi Perillo, representando os governadores.

Terá reuniões bimensais, a primeira daqui a mais ou menos dez dias, cuja pauta ainda será definida, mas já está mais ou menos delineada: um diagnóstico sobre as necessárias correções no exercício da oposição ao PT e área de influência.

E com isso estará tudo resolvido? Nem de longe.

A tensão permanece. Serristas atrás de recuperar o terreno perdido em virtude da campanha presidencial pessimamente avaliada no âmbito interno e aecistas empenhados em fixar domínio do território.

Com o seguinte discurso: Serra poderá ser até mesmo candidato à Presidência em 2014 se Aécio não quiser (ou não puder, evitam acrescentar). Mas não dando as cartas do jeito que bem entender.

Era vidro

Seja qual for o desfecho do mais recente caso Palocci, é visível a olho nu o desencanto do "grand monde" da política, imprensa e finanças com o ministro, até então o mais querido das estrelas.

Há o peso das suspeitas e o efeito da reincidência, mas conta, sobretudo, a evidência de que a habilidade política de Palocci não corresponde à fama.

Dilma Rousseff mandar confrontar o vice Michel Temer com ameaça de demissão dos ministros do PMDB é uma coisa. Palocci cumprir a ordem tal como lhe foi transmitida é sinal de outra bem diferente: ausência de cálculo e falta de discernimento.

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