Depois de muito resistir – foi preciso o presidente Lula contaminar o senso comum com a certeza do "já ganhou" – o candidato do PSDB a presidente, José Serra, acabou percebendo uma evidência: oposição existe para se opor.

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Não a uma entidade etérea que ninguém sabe direito o que é ou às mazelas de um modo geral. Oposição existe para se opor à situação. Para ganhar ou perder.

Luiz Inácio da Silva cansou de ensinar isso aos governos aos quais fez oposição. Não que todo oposicionista deva ter como modelo o PT.

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Aquele que em nome de um projeto partidário se opõe até ao bem-estar da maioria – por exemplo, sendo o único ente a não se engajar no combate à inflação nos anos 90 – para depois reivindicar a autoria da obra rejeitada.

Em versão suave o nome disso é oportunismo.

Oposição representa o contraditório que não precisa necessariamente ser destrutivo nem agressivo. Mas não pode deixar de ser incisivo ao contraditar o que diz e o que faz o governo. De preferência quando existirem motivos para tal e mediante a apresentação de argumentos bem fundamentados.

Durante dois mandatos de Lula, o PT e a ampla coligação partidária que sustenta o governo deram muitos motivos e várias oportunidades para que a oposição cumprisse o seu papel. Raríssimas exceções, o PSDB nunca quis.

Não por falta de chamamento – o DEM bem que tentou, junto a algumas vozes combativas em outros partidos –, mas por falta de vocação para a luta, excesso de cálculo, medo de arriscar e uma confiança temerária no destino.

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As duas principais lideranças eram governadores de estado (José Serra e Aécio Neves) e neste Brasil atrasado é preciso ter relações cordiais na política para que as ações administrativas não sejam prejudicadas.

O porta-voz mais abalizado (pelo preparo e por ter ocupado a Presidência por oito anos) era rejeitado por não ser "popular". Fernando Henrique Cardoso era ouvido em privado e ignorado em público. Suas críticas caíram no vazio por mais pertinentes que fossem.

As bancadas na Câmara e no Senado, outra vez ressalvadas as exceções raríssimas, eram perfeitas traduções da frouxidão (no sentido preguiçoso da palavra) e da ambiguidade.

Nunca houve um plano de ação entre os representantes parlamentares, executivos e partidários, muito menos houve estratégia para enfrentar os anos de oposição e depois para a campanha eleitoral.

Serra e Aécio se faziam de bonzinhos, alguns senadores de mauzinhos, os melhores deputados depois de duas ou três ordens para "aliviar" para o lado de Lula em CPIs. FHC falava sozinho.

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Depois de começar a campanha ainda no papel de bonzinho, Serra viu pelas pesquisas que só lhe resta fazer o que seu partido deveria ter feito nos últimos oito anos, até porque foi essa a escolha do eleitorado em 2002 e 2006: que o PSDB ficasse na oposição.

Há, entretanto, um problema. Talvez não dê certo porque o eleitorado poderá não firmar laços de confiança com candidato e partido que mudam de comportamento de uma hora para outra.

A tarefa não é simples, pois Serra se propõe a convencer o eleitorado em 40 dias de algo sobre o que o PSDB não pareceu convencido em oito anos.

Choque de gestão

Em oito anos o loteamento partidário da administração pública destruiu a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que já foi símbolo da eficiência.

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Obra iniciada pelo PTB e completada com brilhantismo pelo PMDB, cuja gestão na Fundação Nacional de Saúde já teve suas credenciais apresentadas pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, para quem a Funasa é conhecida pelas denúncias de corrupção e baixa qualidade de serviços prestados.

Não por isso

Em Brasília a campanha de Joaquim Roriz está indignada com o PT, que chamou seu candidato de "ficha-suja" no horário eleitoral.

Roriz – notório ficha-limpa – quer direito de resposta.

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