Muito boa a providência anunciada pela presidente Dilma Rousseff na primeira reunião ministerial de 2012: lá para meados do ano vai começar a acompanhar "de perto" tudo o que acontece no governo.
Cada pasta será obrigada a manter sistemas atualizados de informações on-line para que a Presidência, sob coordenação da Casa Civil, possa monitorar todas as ações, os gastos, o cumprimento das metas e cobrar resultados na hora, sem postergação.
Não obstante seja positiva a demonstração de ativismo, o anúncio não traz novidade alguma a não ser a confissão de que o governo iniciado há nove anos considerando a continuidade da gestão Luiz Inácio da Silva não vem cumprindo obrigações básicas.
Não atende aos pressupostos de transparência, eficácia e de intransigência no tocante a desvios e desmandos, visto que acaba de anunciá-los como regras a entrarem em vigor mediante preparação especial de cada um dos 38 ministérios.
Nem com toda boa vontade do mundo é possível aceitar que o objetivo de prestar "melhores serviços à população", conforme explicou o porta-voz, Thomas Traumann, seja, como disse a presidente em seu discurso, "um projeto revolucionário, progressista e indispensável", à reforma do Estado.
Com perdão da constatação acaciana, é o mínimo que se espera do poder público. Onde a revolução? Ao que se saiba, há um sistema de acompanhamento da execução do orçamento em funcionamento desde 1987. Há portais que deveriam abrigar todas as informações relativas a cada uma das pastas.
Convenhamos, o acompanhamento on-line do que quer que seja não se constituiu exatamente numa inovação. Muito menos pode ser visto como método revolucionário.
Além disso, há (ou deveria haver) a sistemática tradicional de contato permanente da presidente da República com seus auxiliares diretos. Mas o gigantismo e as idiossincrasias talvez atrapalhem o andamento dos trabalhos e favoreçam a inércia agora confessada.
Situação difícil de ser superada sem a proposição de reforma de fato, sem enfrentar embates com aliados, votações difíceis, pressão de lobbies, sem criar atritos com servidores ou quaisquer outros setores, sem perdas nem dores.
Só na base do anúncio da disposição de fazer o que já deveria estar sendo feito há muito tempo.
No triturador
Fernando Henrique Cardoso disse à revista inglesa The Economist o mesmo que circula sem reservas no PSDB e adjacências.
Não falou nada de novo além do fato de fazê-lo publicamente em ato de extrema frieza para com José Serra, amigo de 40 anos, o mais próximo quando da morte de Ruth Cardoso.
Aécio Neves é o "candidato óbvio" dos tucanos para 2014? Evidentemente.
Serra cometeu erros na campanha eleitoral? Muitos e enormes, embora não os tenha cometido sozinho.
Está isolado no partido que já presidiu, ajudou a fundar e pelo qual concorreu duas vezes à Presidência da República, foi prefeito e governador de São Paulo? Não resta a menor dúvida.
Dele, seus correligionários só querem hoje que vá ao sacrifício de disputar uma eleição que não deseja, para tentar salvar a prefeitura do favoritismo que se avizinha para o PT.
Fora isso, os tucanos preferem tê-lo na condição de desistente.
Logo, o momento é pessoalmente difícil para quem tenta se reinserir na cena com ação contundente, e solitária, de oposição (até numa revisão do comportamento como candidato em 2010) seja para voltar a se candidatar a presidente, seja para dar combate a um governo do qual discorda.
Não obstante seja tido como homem de altas qualidades públicas, atrai ódios internos e externos. Alguns justificados, outros desproporcionais.
As verdades de FH não desvendam mistério, não mudam tendências, sequer consolidam situações, pois nunca se deve desconsiderar o fator mola no fundo do poço. Soam apenas ferinas. E fratricidas na lógica de que um novo caminho só se abre ao custo da interdição de outro. Palavras muito abaixo do padrão de qualidade do autor e representativas de uma atuação partidária que privilegia a exclusão em prejuízo da união.
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