Explodiu mais cedo do que se imaginava a insatisfação latente entre os aliados do governo com a percepção de que são apenas linhas auxiliares na construção do projeto hegemônico do PT, assunto abordado aqui a partir de entrevista do líder do partido na Câmara, Jilmar Tatto, na qual deixava patente o papel secundário dos parceiros de aliança.
A reação surgiu na forma de um manifesto assinado por mais da metade da bancada do PMDB na Câmara reclamando da relação "injusta e desigual" com o PT.
O documento, que refere-se ao tratamento diferenciado dado aos petistas no governo na comparação com outros integrantes da base de sustentação, tem algum caráter de pressão fisiológica, mas na essência alcança razões mais profundas.
São compartilhadas por todos os demais partidos da coalizão governamental, mas explicitadas pelo PMDB que, até pelo peso e pelo fato de ocupar a Vice-Presidência da República, acaba funcionando como uma espécie de porta-voz da revolta geral.
Se a ópera pudesse ser resumida numa frase, seria a seguinte: o PMDB cansou de ser periferia. Percebeu que estava melhor quando não submetido à obediência decorrente da ocupação da Vice-Presidência da República e concluiu que fez um mau negócio.
A contrariedade emerge de um motivo pragmático: o risco iminente à sobrevivência do partido.
Importante por ter presença no país todo, por ocupar o maior número de prefeituras Brasil afora e por ter representação forte no Congresso, o PMDB começou a se dar conta de que não apenas a situação pode mudar (para pior) como detecta no PT a execução de um plano estratégico para virar esse jogo.
Avançando sobre as trincheiras peemedebistas nos estados e municípios sem levar em conta critério de contrapartida na formação das alianças eleitorais e, no plano nacional, alijando o partido do centro das decisões de poder.
É um movimento de confronto ao governo? Não só. Oficialmente o ataque dirige-se ao PT, mas internamente a intenção é "sacudir" a cúpula, tida como excessivamente submissa ao Palácio do Planalto por causa de projetos individuais.
Principalmente dois: o do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o do vice-presidente Michel Temer. O primeiro quer presidir a Casa a partir de 2013; o segundo pretende assegurar o lugar de vice na eleição de 2014.
Em nome disso, reclamam os deputados, submetem-se passivamente à ofensiva do PT sem cuidar da preservação do partido em si que, na avaliação de lideranças, corre o risco de virar o DEM do PSDB.
Ou seja, tanto atua a reboque do carro-chefe, quanto aceita as regras da conveniência do outro que, quando acorda, está em vias de extinção sem força, voz nem consistência para reagir.
É essa a discussão de fundo, muito mais que a reivindicação de cargos aqui e ali. Uma situação complicada, pois o PMDB não tem para onde ir. Mas ali já começa a crescer a percepção de que talvez seja melhor tentar sobreviver só do que permanecer como apêndice e morrer mal acompanhado.
Algo se move
As condenações em primeira instância de Marcos Valério e Waldomiro Diniz, nos últimos 15 dias, lançam crédito na eficácia, ainda que lenta, da Justiça e desmoralizam as afirmativas sobre o caráter "fantasioso" e "golpista" dos escândalos em que ambos dividiram a cena com figuras proeminentes do governo federal.
Febeapá
Marcelo Crivella diz que terá de "aprender muito" sobre suas novas funções. Maravilha. Mais não seja para, uma vez inteirado do assunto, explicar ao país qual é mesmo a serventia do Ministério da Pesca. Ademais, a declaração de Crivella sobre inépcia no trato de minhocas e anzóis é especialmente constrangedora para a presidente Dilma que inaugura o que seria o "primeiro ano de seu verdadeiro governo", como se diz por aí, enveredando pelo perigoso terreno da galhofa.
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