A história sobre a possibilidade da formação de uma chapa presidencial reunindo os governadores de São Paulo e Minas Gerais tem mais ou menos a idade da candidatura de Dilma Rousseff. Em fevereiro de 2008, o presidente Luiz Inácio da Silva anunciou ao Brasil que Dilma seria a "mãe do PAC", lançando o primeiro esboço de slogan de campanha da ministra escolhida para representá-lo na primeira eleição na qual não é candidato, desde a redemocratização.
Um pouco antes, no fim de 2007, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso começava a conversar sobre a chapa José Serra-Aécio Neves com interlocutores que poderiam levar o assunto adiante na imprensa em feitio de especulação ainda incipiente.
Na época, a ala política da equipe de Aécio Neves em Minas via a ideia com grande simpatia. Em Belo Horizonte, mais exatamente no Palácio da Liberdade, falava-se do assunto como a solução ideal.
O governador tergiversava, mas não rejeitava peremptoriamente o plano. Dizia apenas que era cedo para discutir o tema e que a formação da chapa com dois candidatos do PSDB poderia denotar arrogância do partido, que estaria, assim, dispensando de antemão parceiros de outras legendas.
Um parêntese: tese que o governador de Minas parece ter abandonado quando recentemente citou o nome do senador Tasso Jereissati para compor a chapa.
Nesses pouco mais de dois anos, a história foi tratada na base das idas e das vindas, de um jogo de luz e sombra, mas nunca arquivada. Nem quando o governador de Minas passou a negar a hipótese com mais veemência e seus aliados a tratá-la quase como uma ofensa.
Por essas e algumas outras é que a conversa da chapa Serra-Aécio continua em pauta. É de se perguntar por que o partido e seus políticos sustentariam esse suspense durante tanto tempo se a solução, no final, pudesse ser outra que não a cogitada há mais de dois anos, esperada por toda a oposição e temida pelo adversário?
Seria pelo gosto ao exercício da dúvida? Bom para intelectuais, mas no campo político gera incerteza e para o eleitor recende a dubiedade, fragilidade e confusão.
Seria uma maneira de não entregar o jogo ao inimigo antes do início da partida? Ou estariam os tucanos perdidos, divididos e prisioneiros de idiossincrasias internas?
Nesta última hipótese, não sustentam uma campanha vitoriosa. Nas outras duas, fica a dúvida sobre a eficácia da estratégia.
O partido criou, alimentou e promoveu a expectativa da formação de uma chapa tida como imbatível. Agora fica prisioneiro de uma solução apoteótica, sob pena de patrocinar um anticlímax logo no início da campanha.
Talvez o PSDB tenha outra carta bem escondida para jogar ou pode ser que esteja tudo acertado nas internas entre os dois governadores. Caso contrário, os tucanos iniciarão sua trajetória com uma sensação de fiasco no ar, deixando a impressão de que não conseguem materializar uma aposta tão antiga. Da idade da candidatura Dilma.
Só pressão
Nem o PMDB nem o PT acreditam na ameaça feita pelo presidente Lula de se ausentar dos estados em que houver divisão dos aliados, o chamado palanque duplo para a candidata Dilma Rousseff.
A intenção do presidente foi pressionar os parceiros a entrar num entendimento. Ocorre que ambos sabem perfeitamente bem que Lula não pode se dar ao luxo de desprezar contato com o eleitorado nem de escolher aonde vai ou não vai defender sua candidata.
Precisa ocupar todos os espaços possíveis se não quiser prestar um grande serviço à oposição.
Lé com cré
O deputado Ciro Gomes reafirmou em entrevista à revista Isto É que na opinião dele o governador José Serra não será candidato a presidente, deixando para o governador Aécio Neves a vaga.
Ao mesmo tempo, Ciro continuou confirmando sua candidatura presidencial.
De duas, uma: ou tem informação privilegiada ou não disse a verdade quando garantiu que sairia do páreo se o escolhido do PSDB fosse Aécio.
Pé ante pé
Cuidadoso, o ex-governador do Acre Jorge Viana fez a defesa da retomada pelo PT da bandeira da ética na política, em artigo no jornal O Globo de domingo.
O texto tem oito parágrafos. Nos seis primeiros, Viana justifica-se exaltando os feitos do partido no governo. No sétimo, toca no assunto: "É indispensável pontuar a política de alianças para a sucessão presidencial com a preparação de candidaturas éticas à Câmara e ao Senado."
No oitavo, propõe a reposição da questão ética "no mesmo lugar de destaque que ocupou há 30 anos, na fundação do Partido dos Trabalhadores".
Naquele tempo o tema era premissa básica nos arrazoados dos petistas, que hoje tratam do assunto quase como quem pede desculpas pela abordagem.
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