Ao contrário do que o ritmo de marcha lenta poderia sugerir, a situação do pré-candidato à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, não leva os nervos do PT à flor da pele.
O partido não jogou a toalha nem abandonou a perspectiva de recuperar terreno com a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cena prevista para logo após a oficialização da candidatura. Continua apostando na virada.
Mas, já não se nota entre petistas aquele clima de sangria desatada do início do ano, antes de José Serra decidir ir à luta pelo PSDB, quando o partido jogaria ali, sob o comando de Lula, uma partida decisiva na sua consolidação como força política hegemônica no país.
Agora o que se ouve é o seguinte: se der para ganhar, muito bem. Se não der, amém. A baixa ansiedade dos petistas deve-se à constatação de que para eles seria ótimo ganhar, mas a derrota não significa grande coisa além de uma mudança temporária de planos. Ou seja, têm espaço para fazer uma graça.
Já para o PSDB a coisa é diferente: a vitória é fundamental e a derrota um verdadeiro desastre. Tanto que avaliou e resolveu não correr o risco de apostar em experimentos.
O PT anda tão "relax" nesse assunto que fala com naturalidade sobre a hipótese de um segundo turno entre Serra e Gabriel Chalita, do PMDB.
Claro, isso é dito no paralelo. No oficial, vale a interpretação de que nos últimos 25 anos o PT nunca esteve fora da final que, portanto, seria mesmo disputada entre petistas e tucanos.
Como para o PT é essencial impor um vexame ao adversário tradicional, se Chalita chegar na frente de Haddad o partido prepara-se para aderir sem contestação ao PMDB, contando que o desgaste do prefeito Gilberto Kassab (PSD) e a rejeição a Serra trabalhem em favor do governismo federal.
Sem volta
Integrante da CPI do Cachoeira, o petista Cândido Vaccarezza acha cada vez mais remota a possibilidade de a comissão servir de arena a jogos políticos. Pela simples razão de que as informações já existentes obrigam o Congresso a se curvar à "primazia dos fatos".
Na opinião dele, quem tiver juízo vai encarar a CPI como "uma excelente oportunidade para desvendar pelo menos uma parte das atividades de uma quadrilha que fazia espionagem empresarial e política, explorava o jogo clandestino, lavava dinheiro e corrompia agentes públicos".
Alguma chance de acordo como ocorrido em outras ocasiões?
"Com tudo que a Polícia Federal já apurou, o único acordo possível é em torno do aprofundamento das investigações."
O fator preponderante para o êxito será a vigilância da opinião pública. "Quem tentar abafar qualquer coisa vai se desmoralizar."
Predisposições
A avaliação do ex-presidente Lula feita recentemente a um interlocutor do PT de que o partido é o principal alvo das outras legendas na CPI combina com o resultado de uma pesquisa da empresa de comunicação FSB, feita entre os dias 24 e 25 de abril.
Foram consultados 223 dos 513 deputados federais, integrantes de 19 dos 20 partidos com representação na Câmara.
A maioria (56%) acha que ninguém ganha politicamente com a CPI, mas 23% consideram que o PT tem mais a perder, seguido do DEM com 19% das indicações. Os tucanos ficam na terceira colocação (14%) entre os presumidos "perdedores".
A consulta foi feita antes de o PMDB entrar "na roda" via estripulias parisienses do governador Sérgio Cabral Filho com o empresário Fernando Cavendish (Delta) e talvez por isso o partido não apareça de maneira significativa no ranking de perdas e ganhos.
O número mais robusto é aquele que aponta 65% dos deputados compartilhando a impressão de que a CPI vai "resultar em novas revelações sobre o envolvimento de políticos e em perdas de mandatos".
A pesquisa não pode ser vista como uma antecipação dos rumos da CPI, mas revela algo sobre o estado de espírito dos partidos na Câmara.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
Eduardo Bolsonaro diz que Trump fará STF ficar “menos confortável para perseguições”
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT
Deixe sua opinião