A caça frenética dos candidatos finalistas pelo apoio dos partidos que ficaram de fora do segundo turno impressiona. Serve como passatempo no intervalo até o início do horário eleitoral no rádio e na televisão, presta algum serviço ao exibicionismo, mas não funciona no essencial.
Principalmente nessa etapa final em que as disputas acontecem apenas nas grandes cidades e o horário gratuito é repartido ao meio entre os dois oponentes independentemente do tamanho da coligação, o peso das alianças sobre o resultado da eleição é quase zero. Quase, porque há uma vantagem objetiva. Quanto mais partidos houver ao lado de um candidato, em tese mais estruturas e mais gente haverá trabalhando por ele.
Mas, se é patente a preferência do eleitorado por pessoas em detrimento dos partidos, evidente que ao fim e ao cabo conta mesmo a capacidade de sedução ou convencimento, para tratar o assunto com mais formalidade do candidato na percepção do eleitor.
Então, por que os partidos se dedicam com tanto afinco a conquistar o apoio das legendas restantes e alguns até fazem da exibição desses acordos um movimento estratégico? Basicamente por dois motivos: para criar um fato político por dia no curto período de entressafra e para se posicionar no jogo de correlação de forças presentes e futuras. Não é a fase de diálogo com o eleitor, é o momento de conversarem entre si, passarem os seus recados, mostrar os músculos uns para os outros, demonstrar agrados e desagrados.
Em São Paulo, dificilmente há algum eleitor preocupado com o fato de o PTB apoiar Gilberto Kassab, o PPS anunciar neutralidade ou de Marta Suplicy dirigir gestos elegantes a Geraldo Alckmin. Ali, o relevante foi o acordo da dupla DEM-PSDB com Orestes Quércia, pelo qual José Serra tirou do governo federal o PMDB paulista para a parceria de 2010. E ainda assim, nada garante a perenidade deste ou de qualquer outro acerto.
Todos dependem da direção dos ventos. No Rio, o PT saiu das urnas com algo em torno de 6% dos votos e, no entanto, o apoio do partido a Eduardo Paes é tido como um feito e tanto. A direção petista sabe perfeitamente da irrelevância eleitoral presente nessa decisão, como conhece bem o perfil de seus adeptos para supor que sejam mais afeitos ao modelo Fernando Gabeira. Mas o partido do presidente da República precisa fazer agradar, e muito, o PMDB do governador Sérgio Cabral e seu candidato Eduardo Paes.
Carinho que se revelará útil ou inútil só mais à frente, quando os pemedebistas decidirem em qual porto suas canoas ficarão mais seguras na perspectiva do poder federal.
Antídoto
Depois de meses agindo de modo oposto, o PT, por meio de seu presidente, Ricardo Berzoini, decreta: "Não há transferência de votos no Brasil". Com isso, o partido cria a teoria adequada ao distanciamento do presidente Lula das eventuais derrotas do segundo turno, mas abre espaço para contestações internas à pré-candidatura da ministra Dilma Rousseff.
Se não há transferência, vale o patrimônio de cada um.
Cara-pálida
Candidato da aliança Aécio Neves-Fernando Pimentel em Belo Horizonte, Márcio Lacerda explicou em duas palavras a frustração da expectativa de vitória no primeiro turno: "Fomos incompetentes".
Para um político aprendiz, Lacerda já socializa prejuízos com a autoridade de um autêntico catedrático.
Outro mineiro, este apenas um espectador apartidário da cena, lamenta o risco do desmonte de um trabalho administrativo muito bem avaliado pela população da capital, e levanta uma tese que, se correta, serve como lição e explicação: o governador Aécio provavelmente esteja pagando o preço de pretender alçar à condição de unanimidade.
Carapuça
Ao justificar sua não-interferência na decisão de Geraldo Alckmin de concorrer à prefeitura, o governador José Serra disse que o PSDB de São Paulo não é um "partido de coronéis".
Feita assim, em tom de ressalva à seção paulista, a afirmação do governador presta-se a interpretações ariscas por parte de colegas de partido, que veriam nela uma indireta à existência do vezo do mandonismo em tucanos de outros estados.
O senador Tasso Jereissati, por exemplo. Se não tivesse absoluta certeza de que José Serra achou perfeito seu apoio explícito à candidatura de Ciro Gomes em 2002, poderiam imaginar tratar-se de uma referência ao Ceará.
Não por isso
Se Lula fez de Mangabeira Unger ministro, por que negaria apoio no Rio a Eduardo Paes baseado em rancores do passado? Os dois achavam que Lula comandava um governo corrupto e, neste aspecto, fica mal quem se curva para beijar e não quem estende a mão para ser beijada.
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