Com o exímio diretor de cena João Santana ocupado em burilar a imagem da presidente Dilma Rousseff à semelhança do gosto popular e Lula temporariamente afastado do papel de catalisador de todas as atenções, o PT ficou desguarnecido.
Sem anteparos, desprovido de figurinos elegantes e de roteiro adaptado, deixou de lado o modelo moderado. Joga como veio ao mundo e, explícito, tem feito uma bobagem atrás da outra.
Rui Falcão na presidência do partido é apontado como o responsável pelos trabalhos, no bastidor, reconhecidamente atrapalhados. Não deixa de ser uma injustiça, por meia verdade.
Não foi (só) ele quem andou espalhando que a ideia de montar uma CPMI a partir da Operação Monte Carlo teve origem no intuito do ex-presidente Lula de se vingar de adversários envolvidos nas denúncias e socializar prejuízos políticos decorrentes do julgamento do mensalão.
Foram parlamentares e ministros do partido. Emergiu desses personagens também a versão de que a revista Veja seria "sócia" do esquema criminoso de Carlos Augusto Ramos, vulgo Cachoeira, na conspiração para derrubar ministros.
Apressados, nem notaram a tolice: Dilma os demitiu. Então, se maquinação houve, a presidente esteve a ela associada.
Rui Falcão assume as operações atabalhoadas um pouco depois, quando faz convocação pública à "sociedade e movimentos sociais" no apoio à CPMI para "desmascarar" os autores da "farsa do mensalão".
Entre os quais não se incluíam José Dirceu e companhia, que levaram a imagem do PT à lama, mas a imprensa, parlamentares que atuaram na CPI dos Correios e ministros do Supremo Tribunal Federal cujos votos foram especialmente rigorosos na aceitação da denúncia.
Aquilo que era para ser executado na sombra veio à luz. Não satisfeito, Falcão fez-se porta-voz do propósito de se aproveitar do momento para "enfrentar o poder da mídia que contrasta com nosso governo desde a subida de Lula". Isso era dito aos sussurros por petistas que asseguravam ter o apoio de parlamentares de outros partidos "loucos para pegar a Veja".
Agora, a pressão sobre o procurador Roberto Gurgel que era apenas insinuada, gestada nos atos dos integrantes da CPMI, tornou-se explícita porque Gurgel reagiu apontando claramente a existência de uma ofensiva urdida por quem deve e por isso teme: os réus do mensalão.
Ficou tudo às claras, restando aos feiticeiros buscarem a cada lance um jeito de não ser atingidos pelos efeitos do feitiço.
Indisposição
Um detalhe na pesquisa Ibope sobre a Prefeitura de São Paulo chama atenção. Dos 11 candidatos citados, só um não tem índice de rejeição superior ao porcentual de aprovação.
Por ordem de preferência a escala é a seguinte: José Serra tem 31% de votos positivos, mas 35% dizem que não votariam nele de jeito nenhum; Celso Russomanno é exceção, mas quase empata com 16% de aceitação e 13% de rejeição; Netinho recebe 8% dos "sim", mas é campeão do "não", com 38%.
Soninha Francine é escolhida por 7% e rejeitada por 17%; Gabriel Chalita tem 6% das preferências e 11% das opiniões negativas; 5% escolhem Paulinho da Força e 18% o repudiam; Fernando Haddad atrai 3% de simpatia e 12% de antipatia.
Os lanternas são Carlos Giannazi, Luiz Flávio DUrso, com 1% cada, e Levy Fidelix sem nada, zero. No quesito rejeição dos dois primeiros recebem respectivamente 9% e 11% e o último vai a 19%.
Perna curta
O pedido negado pelo ministro relator Joaquim Barbosa da defesa para desdobrar o processo do mensalão a fim de que 35 dos 38 acusados fossem julgados em tribunal de primeira instância e não do Supremo Tribunal Federal, era clara manobra de procrastinação.
Um dos beneficiados pela volta à estaca zero seria o deputado cassado José Dirceu, justamente o réu que proclama o desejo de ser julgado o mais rápido possível.
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