As duas semanas que Marina Silva e o PV pedem para decidir qual apito tocarão para seus eleitores no segundo turno não cabem dentro dos 25 dias que faltam para a eleição.
Nem os candidatos Dilma Rousseff e José Serra podem esperar tanto nem a expectativa do público se sustenta durante tanto tempo.
Inclusive porque no fim Marina pode chegar à conclusão de que a neutralidade é a melhor posição. A posição do PV não importa, já que o centro mesmo das atenções é a senadora.
Decisões que demoram a sair, ainda mais em situações emergenciais como a do segundo turno da eleição presidencial. A procrastinação põe os personagens da história no sério risco de ser atropelados pelos fatos e pelas circunstâncias.
Os fatos já a partir de agora vão começar a surgir: as polêmicas, os programas do horário de rádio e televisão, a tomada de posição dos aliados país afora, a arrumação interna das campanhas, os acertos, os desacertos, uma série de coisas que vão acontecendo muito rapidamente e que podem fazer do apoio de Marina/PV um acontecimento vencido. Ou pior: aborrecido.
Guardadas todas as proporções, não custa lembrar a quem interessar possa que a escolha do vice da chapa do PSDB um dia foi assunto nobre e acabou naquela situação lamentável que todo mundo viu.
Ninguém é capaz de dizer ou informar com razoável grau de precisão o que vai acontecer com essa que hoje é a mais cortejada das noivas da política.
Primeiro, um parêntese: melhor ver PSDB e PT correr atrás de Marina que reverenciar o PMDB por causa de tempo de televisão e serviços prestados à "governabilidade".
Ninguém consegue saber com segurança qual o rumo do PV porque nem o PV sabe.
O presidente do partido anunciou apoio a Serra, bem como figuras de destaque do PV como Fernando Gabeira e Fábio Feldman. Isso, aliado ao fato de "os verdes" estarem aliados aos tucanos em vários estados faz supor que o partido irá com Serra.
Convém, porém, não subestimar a capacidade de cooptação do governo e o fato de que é o presidente em pessoa quem procurará Marina para convidá-la a apoiar Dilma.
Apesar de todo os pesares, Marina simplesmente adora, no sentido religioso do termo, Luiz Inácio da Silva. De outro lado, abomina no sentido pagão da palavra Dilma.
Por isso a aposta geral é a de que ficaria neutra. Se apoiar Dilma, volta para uma campanha do PT. Se ficar com Serra, salta para o outro lado da margem sem escalas.
Para quem está chegando ao "grand monde" da política agora qualquer passo em falso é um risco, muito embora a paralisia tampouco seja a melhor conselheira.
Marina não é uma líder de massas. Tanto que tem gente chamando seus 20% de votos de "fenômeno".
Se Lula com seus 80% de popularidade só conseguiu dar 47% para Dilma, Marina de repente faria 20% das pessoas que votaram nela por variados motivos dos piores aos melhores seguirem incontinenti sua posição?
E se só uma ínfima parte seguir, como ela fica?
Difícil, mas qualquer que seja a decisão será necessário apressá-la. Sob pena de os verdes acabarem caindo de maduro.
Embarque na onda
Os institutos contratados por campanhas e governos não "erraram", cumpriram suas tarefas. As pesquisas saíram com a credibilidade arranhada, mas isso acontece em toda eleição e depois (lamentavelmente) passa.
Pior aconteceu com a imprensa em geral, nacional e estrangeira, que ficou na referência cega dos números, abstendo-se de pensar, de "reportariar", de dar às amostragens sua devida dimensão.
Na melhor das hipóteses, as intenções de votos de Dilma alcançaram 55%. Cinco pontos é pouco para sustentar aquela certeza toda na decisão no primeiro turno.
Precisão
Na quinta-feira anterior às eleições, logo após o debate da TV Globo, o marqueteiro do PSDB, Luiz Gonzalez, revelava a um grupo de jornalistas o resultado do "tracking" (medições em série por telefone) daquele dia: 42% para Dilma, 31% para Serra e 20% para Marina. Mais preciso que a pesquisa da boca de urna.
Deixe sua opinião