Nos últimos dias o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem tido um comportamento diferente do habitual. Pediu aos ministros que tenham cuidado no cumprimento da lei eleitoral, alertou ao filho que pegue leve nos comentários homofóbicos no Twitter e criticou o uso da máquina pública em campanha eleitoral.
Movimentos puramente táticos? Pode até ser, mas de todo modo é a primeira vez que o presidente defende em público uma boa causa. Em geral, ele costuma criticar as leis, os controles, proteger gente envolvida em escândalos de corrupção, levar os amigos do filho para passear no avião oficial.
Recentemente debochou da Justiça Eleitoral e até então advogava o direito de atuar livremente em prol de sua candidata a presidente da República, Dilma Rousseff.
Seja qual for a motivação do presidente Lula, o resultado imediato é positivo. O histórico não lhe confere credibilidade, mas tampouco autoriza que se lhe subtraia um crédito de confiança por antecipação.
Muito melhor que ele discorde das multas impostas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nos termos ditos numa entrevista à rádio Tupi do que naquela forma de desqualificação pública da Justiça praticamente fazendo leilão das multas para divertir plateias e deformar o foco da questão: a transgressão de uma lei.
Na entrevista à rádio Lula disse que a multa deveria ter sido aplicada à emissora que focalizou o rosto da então ministra Dilma quando ele falou em eleições. Esqueceu-se de que a penalidade foi aplicada ao presidente justamente porque a emissora em questão era a TV Brasil o que, no entendimento do tribunal, caracterizava uso da máquina pública.
Mas a discordância do presidente, e este é o ponto em análise, deu-se de maneira respeitosa. Como deve ser, mas de forma diferente do que vinha sendo feito.
"Acho que o Poder Judiciário tem um papel importante na garantia da democracia deste país e, obviamente se ele entender que eu sou culpado de alguma coisa, como qualquer ser humano comum, tenho que pagar pelo erro que cometi."
Tanta mansidão e correção de procedimentos coincide com uma inflexão no sentido oposto por parte da candidata Dilma Rousseff, mais agressiva no uso e na busca de expressões "lobos em pele de cordeiro" que possam marcar o adversário junto ao eleitorado.
Talvez isso signifique o velho truque em que um morde enquanto o outro assopra o adversário e depois os papéis vão se alternando até que se consolidem os perfis.
Na largada, Lula assumiu o magistrado republicano, deixando para Dilma o papel da belicosa defensora de seu legado.
Devido lugar. Em boa hora o PSDB desistiu de esconder o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, agora incluído na lista de oradores da cerimônia de lançamento da candidatura de José Serra à Presidência da República.
Não se trata de fazer de FHC um cabo eleitoral de luxo ou de jogá-lo na arena para duelar com Lula. Este seria um embate do passado.
É só uma questão de lidar de maneira adequada com a própria trajetória, com os fatos e personagens que dão sentido ao projeto de governo que o partido apresentará para tentar voltar à Presidência da República.
No painel
Um trecho da entrevista de Aécio Neves à revista Veja, talvez explique sua resistência em ser vice na chapa presidencial. Diz ele: "Não se vota em candidato a vice-presidente".
De fato, como senador, Aécio teria patrimônio eleitoral próprio. Medido e comprovado.
Chuvas
Note-se, tanto no Rio, agora, quanto em São Paulo no início do ano, que não estamos diante de fenômenos gigantescos da natureza.
Não se trata de ciclones, tsunamis, terremotos, nada disso. São chuvas fortes, em proporções além das previstas, mas que necessariamente não teriam de se transformar em tragédias do cotidiano se a precaução fosse política pública prioritária.
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