Enquanto pede à Procuradoria-Geral da República que investigue um ato da presidente da República que não requer investigação, pois o uso eleitoral de cadeia de rádio e televisão na semana passada foi explícito, o PSDB vai deixando de lado o que seria no momento o serviço primordial de um partido que se pretende alternativa de poder.
Os tucanos buscam abrigo nas asas do Ministério Público a fim de dar a impressão de que fazem oposição. No mais, dançam conforme a música orquestrada pela situação.
No campo em que poderiam abrir espaço para exercer o contraditório e falar à opinião pública, o Congresso Nacional, comportam-se como governistas: aceitam formalmente constrangidos a candidatura de Renan Calheiros à presidência do Senado e, na Câmara, submetem-se a um acerto feito entre PT e PMDB.
Acordo este que em tese não deveria lhes dizer respeito não falasse mais alto o medo de ficar de fora da divisão de postos na Mesa Diretora. Em nome de assentos que na prática não lhe conferem poder algum de ação devido à esmagadora submissão da maioria aos ditames do Planalto, firmam compromisso com o compadrio interno e acentuam a falta de comprometimento com a sociedade.
Três dias antes da eleição, o PSDB esboçou reação por intermédio do senador Aécio Neves, que sugeriu ao PMDB a indicação de um nome mais apropriado, sem dizer com todos os efes e erres que gente em débito com a Justiça e com o decoro não pode comandar o Congresso.
A bancada no Senado se reúne hoje para decidir se parte para a abstenção ou se apoia o nome de Pedro Taques. Faz isso quando o quadro parece consolidado, aos 42 do segundo tempo, depois que o procurador-geral da República ofereceu denúncia contra Renan Calheiros ao Supremo Tribunal Federal e em meio a cobrança de apoio por parte do PMDB que alega ter "ajudado" os tucanos a salvar o governador Marconi Perillo na malfadada CPI do Cachoeira.
Se o PSDB pretende ganhar a próxima eleição presidencial, perdeu uma excelente oportunidade de se diferenciar da geleia geral, marcando posição num processo de troca de comando para a Câmara e o Senado que sintetiza a degradação do Legislativo.
Teria aí um bom início de afirmação partidária, mas preferiu o conforto de seus aposentos no muro do qual ensaia descer na última hora e da forma que escolheu para fazer oposição: devagar, quase parando.
Guichê
Certeiro o título de reportagem de O Estado de S. Paulo publicada na terça-feira sobre uma das várias legendas em processo de formação: "Candidato a partido, PROS busca clientela".
O Partido Republicano da Ordem Social, como reza o nome, não quer dizer absolutamente nada. Recolhe assinaturas (ao preço de R$ 0,25 cada) para registro na Justiça Eleitoral à cata apenas de clientes.
Para ter acesso às transações permitidas no sistema de coligações em eleições proporcionais e assim, quem sabe, chegar ao Congresso Nacional, para ter acesso às verbas do fundo partidário e ao tempo à propaganda de rádio e televisão sempre à disposição de eventuais locatários, para se transformar em mais um balcão de negócios.
Depois das maneiras desabridas com que o PSD conseguiu vasta clientela de 50 deputados, quase cinco centenas de prefeitos, e agora está prestes a indicar para um ministério no governo do PT o vice-governador na administração paulista do PSDB, tudo é permitido.
De onde a legenda aspirante não se acanhou. Aproveitou reunião de prefeitos em Brasília para panfletar sua plataforma: "Insatisfeito com seu partido? Quer sair sem perder o mandato? O PROS é a mais nova opção".
Como isca na pescaria, não exige ficha limpa. "É só assinar a ficha".
Puro Stanislaw Ponte Preta, no perigoso terreno da galhofa onde se encena o festival de besteiras que assola o país.
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