O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, foi convencido por seus pares a desistir da ideia de promover a fusão do DEM com um partido de musculatura mais forte, PSDB ou PMDB. Em compensação, quem pensa seriamente em deixar o DEM agora é o próprio Kassab. Na verdade "pensar seriamente" é eufemismo, pois o prefeito está praticamente com um pé fora do partido e outro dentro do PMDB. Coisa para março, no máximo.
As malas estão quase todas prontas, faltando apenas alguns acertos com os dois políticos que Gilberto Kassab tem como referência: Jorge Bornhausen, que lhe deu chance de crescer no PFL, e José Serra, que lhe abriu a oportunidade de ser prefeito de São Paulo ao aceitá-lo como vice na eleição municipal de 2004.
A história dessa mudança começou logo após a proclamação do resultado da disputa presidencial. Se José Serra fosse eleito presidente, a perspectiva de Kassab era integrar um novo e grande partido que Serra pensava em criar, arregimentando o DEM e legendas médias que gravitam em torno do governo federal, mas atuam em faixa própria.
Com a derrota, o projeto se frustrou. Para Kassab e outros líderes com horizonte político e planos futuros em aberto, o DEM acabou se tornando um endereço arriscado. O partido que já chegou a ter 100 deputados federais e a contar com a maior bancada no Senado, em menos de dez anos foi reduzido a 43 deputados e 6 senadores.
Mudou de nome, teve sua direção entregue a uma nova geração de políticos, ensaiou uma oposição mais assertiva e nítida, mas não aconteceu. Aquela nova geração perdeu todas as batalhas. As vitórias foram conseguidas pela velha guarda. Isso se pode dizer tanto em relação à luta contra a CPMF quanto no tocante às últimas eleições. O DEM elegeu dois governadores nos estados de Agripino Maia (RN) e de Jorge Bornhausen (SC).
Hoje o DEM não tem representação de peso no Congresso, não se pode dizer que tenha uma boa imagem junto à população nem tem a chamada capilaridade necessária a uma retomada do antigo vigor em prazo razoável.
A partir dessa realidade surgiu a ideia da fusão. Primeiro com o PSDB e depois com o PMDB. Os obstáculos, entretanto, se mostraram incontornáveis.
A rejeição a uma incorporação com a legenda dos tucanos é unanimidade no DEM. Mágoas presentes e passadas. Já sobre a fusão com o PMDB há problemas regionais incontornáveis. Um deles: no Rio Grande do Norte o senador José Agripino não teria condição de entrar no PMDB, partido do vice-presidente da República, porque não poderia se aliar ao governo federal no Senado, oposicionista de quatro costados que é. Mais uma dificuldade: na Bahia, ACM Neto até aceitaria, mas só se o comando regional da nova formação fosse dele e não de Geddel Vieira Lima, do PMDB.
Diante dos fatos a fusão foi arquivada, mas Kassab continuou com o problema: o que fazer depois que o mandato de prefeito acabar, como expandir o patrimônio político acumulado nos anos de prefeitura?
O futuro no DEM não é risonho, entrar para o PSDB em São Paulo é esbarrar na barreira intransponível do grupo do governador eleito Geraldo Alckmin. Sobra o PMDB e uma peculiaridade: Orestes Quércia está afastado da política para cuidar de problemas de saúde; Michel Temer como vice da presidente Dilma Rousseff estará referido nas questões federais e o partido em São Paulo precisa de comando.
É a combinação perfeita: Kassab precisa de um nicho para atuar, quem sabe se candidatar ao governo em 2014, e o PMDB paulista é um nicho em busca de alguém que lhe dê atuação. Na última eleição, fez apenas um deputado federal.
Mas não estaria criado o mesmo problema levantado por Agripino Maia? Não. Primeiro porque Kassab não vota no Congresso e segundo porque o PMDB dispõe de cidadelas independentes (em São Paulo apoiou Serra) país afora.
Resta a questão da fidelidade partidária. Como sair sem correr o risco de perder o mandato? Kassab e os deputados que iriam com ele. Só é permitido em dois casos: fusão e divergência programática. Talvez com a tendência de se caracterizar como partido claramente conservador, sem máscaras, o DEM tenha dado a Kassab a solução.
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