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Os dois partidos com maior representação no Congresso, PT e PMDB, são aliados no âmbito nacional, mas disputam como adversários o poder local.

Foi assim em alguns estados em 2010 e será assim em muitas capitais – por enquanto, 14 das 26 – em outubro próximo.

Há duas distorções aí. Cada qual à sua maneira, ambas representativas de um ambiente político onde prosperam as conveniências e definham as ideias e os ideais.

Um ex-parlamentar de longa e larga experiência no ramo chama atenção para a seguinte discrepância: em sistema eleitoral/partidário que se prezasse, natural seria que os dois maiores partidos de um país defendessem linhas de pensamento diversas.

E, portanto, deveriam ser concorrentes em todos os níveis, por representarem ideologicamente parcelas diferentes da sociedade.

Como entre nós não funciona assim, não há ideias e sim interesses a defender, toma-se como perfeitamente aceitável a parceria entre supostamente desiguais com vista apenas a colher vitórias eleitorais e depois compartilhar o exercício do poder.

Exatamente por causa do artificialismo programático em que se baseiam as alianças é que se torna possível duas legendas aliadas serem adversárias circunstanciais.

Sem que isso fira de morte a parceria. Ninguém duvida de que PT e PMDB se engalfinhem para valer nas eleições municipais e depois voltem, ainda que aos trancos e barrancos, à convivência no comando do país podendo até concorrer juntos de novo à Presidência da República.

Mas tudo que é torto tem preço e prazo de validade. Aquele mesmo político experiente que aponta desvio no que nos parece ser um curso natural, alerta para a impossibilidade de as coisas transcorrerem assim para sempre.

Com o decorrer do tempo há duas hipóteses para o futuro dessa aliança: ou o PT canibaliza o PMDB e o partido se destrói – ele cita o processo entre PSDB e DEM como exemplo – ou as lutas locais acabam se sobrepondo e a parceria se desfaz.

E por que não é possível se uniformizar as alianças nos planos federal, estadual e municipal, como tentou a Justiça ao impor a regra da verticalização, logo derrubada pelo Congresso?

Porque parceria "de cima" é sustentada na troca de vantagens, no jogo puramente fisiológico. "Embaixo", nas cidades, é que se dá a disputa de fato, pois ali está a fonte de poder real que determina a sobrevivência ou a falência de um partido.

Não por outro motivo as seções estaduais e municipais são as que reagem com veemência a coligações tão esdrúxulas – como a proposta do prefeito de São Paulo ao PT – que pareçam inaceitáveis aos olhos do eleitorado.

A história recente está cheia de exemplos de partidos cujas regionais perderam força e competitividade eleitoral, se acabaram por causa de equívocos na decisão de firmar alianças.

Carimbo

Há um debate no governo sobre a marca do governo de Dilma Rousseff: há quem defenda o investimento na simbologia do social e há quem considere melhor apostar na imagem de eficácia gerencial.

Ambas as propostas encontram obstáculos. O social seria um filão esgotado e definitivamente identificado com Lula.

O gerencial tem a realidade como adversária. Além de não ter visto, quando era chefe da Casa Civil, todas as irregularidades que resultaram na saída de ministros em seu primeiro ano de governo, Dilma não viu o uso político das verbas do Ministério da Integração Nacional, bem como nomeou Fernando Bezerra para o cargo e deixou que o irmão dele fosse por um ano presidente de estatal (Codevasf) subordinada à pasta.

Não são exatamente atitudes de gestora eficaz.

Alto lá

Queira o bom senso que PT, PSDB e prefeito de São Paulo não estejam pensando em transformar o drama da chamada cracolândia em matéria-prima de disputa eleitoral.

Se estiverem, conviria não avançarem nesse perigoso terreno da pusilanimidade a fim de não confirmarem a impressão de que perderam a noção do limite.

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