A medida da dificuldade do governo na eleição presidencial de 2010 é dada pelo presidente Luiz Inácio da Silva, quando dobra a aposta na candidatura da ministra Dilma Rousseff. A despeito de ter sido sempre um adepto do sigilo até o início do jogo propriamente dito assim fez nas quatro primeiras vezes em que foi candidato a presidente , agora Lula resolveu fazer diferente: pôs Dilma na roda de forma oblíqua há dez meses e na última quinta-feira, de Roma, avisou diretamente que está com ela "na cabeça" para concorrer à sucessão.
Com isso, o presidente pode obter o desejado efeito de pôr um freio na discussão e ainda manter a chama acesa da perspectiva de poder frente à ofensiva dos pré-candidatos da oposição.
Deu certo no princípio do ano ao fazer de Dilma a "mãe do PAC". Abafou ambições presidenciais no PT e enterrou as especulações sobre o terceiro mandato assim que constatou em definitivo a inviabilidade prática da proposta.
O clima na época era outro. Bem mais propício à obediência. Ainda se vivia a ilusão do "poste", o PT não havia passado pelo teste da convivência com seus aliados em disputas eleitorais e a oposição ainda não havia dado a largada para a corrida sucessória.
Agora Lula repete o gesto, diz que está com o nome de Dilma "na cabeça", mas corre o sério risco de terminar levando na cabeça por puro erro de cálculo. O quadro mudou, os aliados estão bem menos propensos à submissão e já examinam novas possibilidades para além das fronteiras atualmente governistas.
Podem ou não aceitar Dilma, dependendo das circunstâncias. Hoje, com dois anos de mandato ainda pela frente, a palavra do presidente ainda merece reverência, mas já não carrega o peso de palavra final. Se os partidos vierem a se revelar contra a escolha de Dilma e a partir daí se dispersarem, Lula terá contratado desnecessariamente uma derrota. Do papel de magistrado, cabo eleitoral privilegiado, passará à condição de votante vencido.
Nem o PT esconde a divisão em torno do assunto. Na reunião do Diretório Nacional do partido logo após as eleições municipais, um grupo defendeu a antecipação da escolha oficial de Dilma Rousseff como candidata, mas outro defendeu a busca de alternativas mais competitivas. As legendas de menor peso na aliança aguardam a definição do PMDB, onde a situação da predileta do presidente não é confortável.
A maioria do partido defende a neutralidade de resultados e a minoria defensora da manutenção da aliança com o PT em qualquer hipótese não esconde a opinião de que Dilma seria a menos alentadora delas. Não sendo crível a possibilidade de os partidos aceitarem a imposição de um presidente popular, mas que no dia seguinte à eleição será ex-presidente, só por constrangimento de discordar. Aceitam Dilma se ela até lá demonstrar boas condições de competir. Se ficar no dígito único nas pesquisas, dão adeus e vão embora.
Batendo o pé em Dilma desde já, Lula interdita o debate na base, provoca uma natural reação a imposições e mostra não ter aproveitado direito as lições que a última eleição municipal deu sobre o excesso de confiança de alguns governantes.
Autoria
O governo já reconheceu a necessidade de alterar a MP que permite a renovação automática dos registros de entidades filantrópicas no Conselho Nacional de Assistência Social e, portanto, admite que houve má-fé na concessão de anistia a todas elas, várias envolvidas em esquemas fraudulentos.
Falta agora tornar pública a autoria do contrabando. Assim como jabuti não sobe em árvore, a "pilantropia" não apareceu por geração espontânea no texto da medida provisória.
Pactoíde
Das quatro grandes favelas do Rio de Janeiro onde o governo federal materializou sua parceria com a administração local na instalação de canteiros de obras do PAC para conter a ação da criminalidade, três já foram, depois disso, cenário de batalhas entre polícia e bandidos.
Os moradores continuam a mercê do narcotráfico e a mera presença do Estado não serviu de garantia para nada. Ao contrário: na hora do aperto, prevalece a violência e o poder público recua.
Mostra a face no embalo das bandas de música, cercado de muita segurança e depois se retira deixando no ar uma sensação de puro engodo.
Pé-de-cabra
Se os parlamentares querem mesmo criar uma gambiarra legal abrindo espaço para o troca-troca de partidos quando houver eleições à vista é melhor que façam as coisas bem feitas.
O Legislativo finge não se dar conta de que sua prerrogativa de legislar deve obediência aos limites delineados pela Constituição, extrapola e depois, quando o Judiciário se manifesta, reage como vítima de interferência indevida.
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