A troca de acusações não foi leve, muito menos irrelevante. Ao justificar as investigações sobre um esquema de fraudes da ordem de R$ 500 milhões no sistema de arrecadação do Imposto Sobre Serviços na prefeitura de São Paulo, o petista Fernando Haddad disse que recebeu do antecessor, Gilberto Kassab, uma administração "degradada", contaminada por corrupção em várias secretarias. "Um descalabro".

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Depois de uns dias de silêncio, Kassab deu o troco no mesmo tom. Segundo ele, "descalabro" é o primeiro ano da gestão Haddad e o que "degradada" foi a situação em que José Serra e ele, como vice, receberam a prefeitura das mãos de Marta Suplicy, em 2005. O ­­ex-prefeito ainda acusou o sucessor de ser intelectualmente desonesto, incompetente, e de agir com o intuito de minar sua carreira política.

Chumbo trocado para ninguém botar defeito, pois não? Denúncias e suspeições escabrosas, dignas de criterioso e profundo exame em prol do serviço público. Um descalabro, não é mesmo?

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Em tese. Na prática, o legítimo descalabro é o que se inicia agora com a tentativa do PT de um lado e do PSD de Kassab de outro tentando abafar o caso, amenizando a briga em nome do bom andamento das relações políticas entre as duas forças.

O PT não quer perder o tempo de televisão ao qual o PSD tem direito e que lhe será transferido se houver coligação formal entre ambos para a eleição presidencial de 2014. Tampouco pretende abrir mão, se Dilma Rousseff for reeleita, da bancada de Kassab na Câmara.

De onde decorrem as reclamações dos petistas em relação a Haddad — que estaria exagerando e sendo politicamente inábil ao "ir para cima" da gestão Kassab —, e a orientação do ex-presidente Lula da Silva para que o prefeito ponha o pé no freio nas acusações contra o aliado a fim de não pôr em risco a unidade de interesses.

Kassab, por sua vez, instigado a reagir por correligionários, fez o revide. Passou o recado de que, se provocado, também poderia ter coisas desagradáveis a dizer a respeito da conduta de petistas no trato da máquina pública, e rapidamente tratou de, como se diz no popular, baixar a bola.

De acordo com ele, o que ocorre em São Paulo é um "problema local" que não pode criar entraves à aliança nacional, relegando um potencial lodaçal na maior cidade do país ao terreno das irrelevâncias e subordinando isso a conveniências eleitorais.

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O ex-prefeito já disse que pretende concorrer ao governo de São Paulo para que seu eleitorado (conservador) não pense que virou petista por causa do apoio a Dilma. Ainda assim, quer ficar junto com o PT para tirar proveito da força política do Planalto de aumentar a bancada, hoje de 42 deputados, do PSD na Câmara.

Para recordar um velho bordão humorístico: é bonito isso?

Mas pode ficar pior. Quando os dois, Fernando Haddad e Gilberto Kassab, depois de se acuarem mutuamente de patronos de descalabros, derem o dito pelo não dito para se darem as mãos no palanque da reeleição de Dilma Rousseff.

Jogo de encaixe

A reforma ministerial anunciada pela presidente da República para meados de janeiro é mais ou menos como as reformas na política tentadas nos últimos anos: podem ser chamadas de qualquer coisa, menos de reformas.

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Pelo simples fato de que não mudam coisa alguma. A diferença de outras mudanças nos ministérios feitas nesses três anos de governo é que a engenharia das trocas terá o viés abertamente eleitoral.

A composição da equipe presidencial será feita à imagem e semelhança da coligação a ser montada para a disputa de 2014. O apoio dos partidos não necessariamente garante votos, mas assegura tempo de propaganda e impede que vá para os adversários.