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Qual a razão de a presidente Dilma Rousseff resolver pagar o preço junto à opinião pública de um recuo naquilo que seus próprios assessores até outro dia denominavam com orgulho de "faxina" ética, anunciando aos partidos aliados que não fará novas demissões?

Pode ser apenas um recuo tático. Pode ser que a presidente tenha decidido dar uma meia trava na ofensiva contra a corrupção em seu ministério e contra comportamentos inadequados de seus ministros, em observância ao princípio segundo o qual para avançar é preciso retroceder.

Pode ser também que a presidente esteja querendo demonstrar que não será pautada pela imprensa nem pelas brigas internas das ban­­­­cadas governistas no Congres­­­so.

Podem ser essas e outras razões não detectáveis a olho nu que levaram a presidente a, neste momento, dar o dito pelo não dito dizendo que nunca disse o que foi perfeitamente ouvido.

Mas pode ser também que a presidente esteja simplesmente exercitando o estilo de hesitações, de decisões em ritmo de vaivém, bastante marcantes nos primeiros dois meses de governo.

O mais provável mesmo é que a presidente Dilma Rousseff esteja diante das consequências da falta de um planejamento específico para levar em frente uma sistemática de ação com começo, meio e fim.

Dilma atuou nessa questão da dita faxina sempre a reboque dos acontecimentos. Quando eles se acumularam e se atropelaram é possível que ela tenha se dado conta de que não controla todas as variáveis em jogo. Não controlando, corre o risco do descontrole e, portanto, melhor parar antes que seja tarde.

Mas, com isso, se de um lado em tese acalma a "base" – que não se acalmará por tão pouco, diga-se –, de outro deixa órfã aquela parcela da sociedade que gostou do que estava vendo e embarcou no apoio à presidente, em alguns casos deflagrando movimentos de engajamento na empreitada em prol da recuperação da ética como valor social e, sobretudo, institucional.

Alguma resposta o governo terá de dar ao entusiasmo dessa gente. Alguma explicação precisará ser oferecida para a manutenção de Pedro Novais e Mário Negromonte nos Ministérios do Turismo e das Cidades.

Um aceitou trabalhar com uma estrutura "estourada" pela Polícia Federal e outro disse impropriedades muito mais impróprias que aquelas que custaram o cargo a Nelson Jobim. E a denúncia, feita ao Planalto, de que Negromonte comprava apoios à razão de R$ 30 mil cada?

A presidente sempre poderá dizer que não fez o que pretendia fazer porque foi impedida por uma conjuração de malfeitores acantonados no Congresso Nacional. O problema dessa versão é que tem pernas curtas. No presidencialismo quase imperial do Brasil o governo quando quer e se empenha de verdade ganha todas. Desde que saiba o que está fazendo, que tenha claro aonde, como e por que quer chegar.

Um exemplo: quando o então presidente Fernando Henrique Cardoso quis privatizar o sistema de telecomunicações, enfrentou resistências enormes da "base", pois as "teles" eram poderosos feudos de empreguismo e um instrumento de manejo da maioria congressual que parecia impossível de ser quebrado. No entanto, se fez. Com método, tempo, poder de comando, capacidade de convencimento e foco na meta.

Não parece ser o caso do combate à corrupção iniciado pela reação rigorosa de Dilma diante de denúncias e que por enquanto se pode afirmar que durou o exato tempo da reação dos atingidos.

Presentes e futuros, pois o PT teme que venha a ser a próxima vítima do fogo amigo (?) e a presidente seja obrigada a agir com igual rigor.

Haverá uma segunda fase, um recomeço da ofensiva? É a questão se que põe para uma resposta que no momento só pode ser depende.

E depende primordialmente de Dilma Rousseff se dispor a tomar para si o controle das nomeações nos ministérios, no lugar de transferir essa prerrogativa aos partidos.

Agindo como agiu na composição primeira da equipe, a presidente torna-se refém dos humores das bancadas, das artimanhas, do jogo de pressões, dos dossiês e permite que seus ministros defendam os interesses dos respectivos partidos em detrimento dos interesses do governo.

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