Castelos construídos sobre areia estão para a ação do vento assim como receitas de vitórias pré-fabricadas estão para o livre-arbítrio do eleitor: por frágeis, não resistem a movimentos contrários.

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Aplicada ao resultado das eleições municipais, essa lógica derrubou duas teses muito bem apresentadas por seus autores ao longo deste ano, não obstante sua carência total de fundamento.

A mais festejada antes e agora a mais apedrejada discorreu longa e detalhadamente sobre os poderes do presidente da República de transformar qualquer material eleitoral em ouro apenas com a força de sua popularidade.

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Expostos os fatos, o presidente Luiz Inácio da Silva foi parar no topo da lista dos derrotados porque não conseguiu influir nem contribuir para a vitória de aliados ou a derrota de adversários. Lula ficou onde sempre esteve, cuidando do culto à sua personalidade, cuja mítica, se for abalada, não será ao custo de meia dúzia de resultados municipais os quais, no dia seguinte à proclamação oficial, dará um jeito de apresentar com uma versão conveniente e edulcorada.

Na verdade, perdeu (tempo) quem acreditou na fantasia sobre a eleição de postes, muitas vezes baseada em "provas" de acontecimentos de um passado remoto, uma época de outro Brasil, menos informado e de relações muito mais simplificadas.

A segunda tese foi a da "convergência total", lançada pelo governador de Minas, Aécio Neves, que, segundo consta, faria da aliança entre PT e PSDB em Belo Horizonte um experimento a ser aplicado como regra-mãe da "nova política" com data marcada para entrar em vigor: o "pós-Lula".

Conceitos de uma vaguidão ímpar e de prática inexeqüível, pois, como princípio, carimba o embate político como algo pejorativo, imaturo mesmo, e põe o consenso permanente no ápice dos ideais democráticos. Um truque engendrado pelo governador mineiro para conquistar um lugar de destaque para seu "pedaço" no debate nacional, mas recebido com reverência de doutrina profunda.

Por essa ótica fantasiosa, realmente Aécio perdeu a chance de fundar uma nova corrente do pensamento político. Numa visão realista, entretanto, alcançou o objetivo de pôr Minas na cena principal.

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A feiúra da derrota deve-se ao mesmo pressuposto equivocado que sustenta a tese do poste: o menosprezo ao livre-arbítrio do eleitor. Este ganhou porque se impôs, não por consciência repentina. Esteve e estará no mesmo lugar: pronto para pôr em seus devidos lugares invencionices concebidas e recebidas de maneira folgazã.

Fogaréu

O PT foi praticamente unânime na condenação ao tom da campanha do segundo turno em São Paulo, mas nuances separam os defensores e os detratores de Marta Suplicy nas internas. Os contra esticam o repúdio à propaganda sobre a solteirice de Gilberto Kassab e dão a fatura da derrota como liquidada.

Os favoráveis tentam virar a cena do avesso. Dizem que ela pôs o dedo na ferida certa, foi mal interpretada, mas teve o mérito de não se render à hipocrisia. O primeiro grupo quer vê-la excluída de todos os páreos; o segundo pretende preservá-la para disputar o governo do estado. Um terceiro olha de longe, ainda na esperança de convencer Lula de que, na batalha pelo Planalto, mais vale Marta com um capital menor que Dilma Rousseff sem nenhum voto.

Para todos

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O senador Demóstenes Torres levantou uma boa lebre ao lembrar que o presidente do Senado, Garibaldi Alves, pode ser processado por improbidade administrativa se não forem demitidos todos os parentes empregados na Casa, conforme norma do Supremo Tribunal Federal.

Nesse caso, se o Ministério Público resolver agir, podem ser processados também os chefes de outros poderes – federais, estaduais e municipais – que ignorarem a proibição da prática do nepotismo, pois são também, em última análise, os responsáveis pelas nomeações.

E aqui, com "brecha" ou sem ela, justiça seja feita ao presidente do Senado, é a única autoridade empenhada publicamente no trato do assunto. As outras, do presidente da República ao presidente da Câmara do mais minúsculo dos municípios, levam o tema na flauta, completamente indiferentes à voz do Supremo.

Costumes

Há 20 anos, um casamento repentino uniu o deputado Álvaro Valle (falecido em 2000) e uma moça frentista de posto de gasolina escolhida para o papel de primeira-dama do então candidato à prefeitura do Rio. Na época, a equipe do deputado avaliou que, solteiro e sem filhos, ele estaria exposto aos ataques dos adversários.

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Ocorreu o contrário. O gesto foi muito criticado, não se sabe se foi o casamento de conveniência a causa, mas a emenda saiu pior que o soneto e Álvaro Valle perdeu a eleição.