O cientista político brasileiro Cesar Zucco disse uma coisa em entrevista recente ao jornal O Estado de S. Paulo que só quem está longe do país como ele, atualmente dando aulas na Universidade Prin­­ceton (EUA), diz sem receio das patrulhas que tanto idiotizam o debate político.

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Falava sobre a influência eleitoral de programas assistencialistas e lá pelas tantas resumiu a ópera: os pobres de um modo geral são governistas.

Votaram em Fernando Henrique Cardoso quando ele encarnava a solução de um problema que atingia mais cruelmente quem tem menos, a inflação. Votaram em Luiz Inácio da Silva e depois em Dilma Rousseff pela ampliação das políticas sociais que ambos representam.

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O professor avisou que se tratava de uma simplificação. Claro que a questão contém variáveis mais complexas, mas o resultado prático no tocante ao ponto em destaque, a disputa de votos, é aquele mesmo.

Estivesse Cesar Zucco por aqui, perto da arenga produzida pelos esportes clubes tucanos e petistas, talvez fosse acusado de sórdido preconceito ao ousar pensar na hipótese de que a ideologia mãe dos pobres é a garantia da sobrevivência.

Distante, matou a charada que o PT já resolveu ao decidir partir para a conquista de setores de renda média, mas que o PSDB e área de influência ainda hesitam em compreender ao apontar equívoco no diagnóstico de Fernando Henrique sobre a necessidade de a oposição se organizar para disputar o mesmo público no lugar de se ater à batalha perdida junto ao "povão".

Eleitorado cuja recuperação só é possível, nas condições atuais, mediante a reconquista do poder e a posse dos instrumentos de decisão que possibilitam o acesso às camadas dependentes do Estado.

Enquanto os oposicionistas elaboram o exercício da dúvida permanente, o PT exercita liderança: com Lula à frente toma providências, orienta o partido a buscar o eleitorado economicamente ascendente, a ampliar alianças, a vencer resistências, a desbravar searas nunca dantes navegadas e hoje politicamente quase órfãs.

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O confronto, nesse raciocínio, fica reservado ao adversário explícito, o PSDB, cujo principal território Lula e o PT se preparam para minar a partir da próxima eleição municipal mediante a incorporação de novos públicos aos seus domínios.

Exatamente o que propôs, com palavreado mais extenso e elaborado, Fernando Henrique ao sugerir um roteiro de ação aos correligionários.

A diferença é que Lula exerce liderança sobre o partido e FH não, atua como franco-atirador. E não só por responsabilidade do conjunto que não soube capitalizar as realizações da época em que governou.

Em boa medida por culpa do próprio FH, que à época da primeira eleição de Lula parecia mais preocupado em fazer as honras da casa ao sucessor operário do que em ir à luta para defender as mudanças que seu governo havia propiciado ao país.

Não trabalhou pela unidade do partido em torno da candidatura presidencial do PSDB e, com isso, autorizou a tropa a se dispersar.

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O PT tem estratégia nacional que se sobrepõe às querelas regionais. Perseverou, conquistou o poder e faz de tudo para mantê-lo.

Já o PSDB, carente de comando nacional, é engolido por questiúnculas irrelevantes para o grande público. Chegou ao poder, não soube preservá-lo e desperdiçou o patrimônio amealhado.

Engalfinha-se em briga de vereador em São Paulo e não se ocupa de mais nada que possa lhe conferir o espaço que o PT ocupa discutindo eleições municipais e reforma política sem deixar que se disperse o capital acumulado por Lula em oito anos de poder.

Campo fértil

O MST é infrator, mas não é tolo. É só reparar: os estados onde os governadores são tolerantes com invasão de terras e não garantem o cumprimento das reintegrações de posse são os alvos constantes das ações dos sem-terra: Alagoas, Pará, Pernambuco e Bahia.

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Onde os governos são severos e pedem reintegração de posse até pela ocupação de áreas em margens de rodovias estaduais, como Mato Grosso do Sul e Tocantins, as ações dos sem-terra não prosperam.