Não é uma tradução perfeita dos fatos a versão de que o PT não canta vitória desde já de modo explícito por respeito à decisão do eleitor em 3 de outubro ou porque tenha medo da "desmobilização da militância".

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Houvesse alguma reverência às urnas Dilma Rousseff pediria votos no lugar de se proclamar "presidenta" do Brasil por onde quer que vá ultimamente.

O receio de o entusiasmo da tropa se esvair tampouco é real, pois o que alimenta o engajamento é algo que não se esgota: ambição. Por poder, dinheiro ou posições.

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Nem por isso deixa de ser genuína a ordem unida na campanha governista para que se ponha um pé no freio das comemorações antecipadas.

Não por dúvida, pois naquela seara ninguém as tem. Aliás, há que se registrar: nunca houve incerteza, a despeito do óbvio e reconhecido (pelos próprios governistas) desnível de qualificação entre o candidato da oposição e a candidata da situação.

A respeito dessa diferença dá testemunho a necessidade de re­­modelagem física e psicológica da candidata, submetida a um intensivo treinamento de fala amena e pensamento concatenado, além da maratona de embelezamento semelhante à que se submetem senhoras desesperançadas em programas de televisão.

O medo é que uma vez considerada a parada ganha, os vários setores engajados comecem a discutir o futuro. Melhor dizendo, a realidade.

Deixem de lado a fantasia montada para a campanha – onde a can­­didata é o que o modelo perfeito exige e não o que é de fato – e já desenhem um cenário com rascunhos do que seria no governo Dil­­ma.

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A fim de que se evite algo parecido neste momento de campanha é que é crucial que o PMDB contenha seu apetite e pare de falar nos porcentuais da partilha de cargos.

O aprofundamento desse assunto poderia ensejar digressões a respeito do loteamento da administração pública.

Lembrando que a candidata jamais disse uma palavra negativa sobre o sistema fisiologista de relações entre Executivo e partidos aliados. Afirmou no Jornal Nacio­­nal que a adoção da prática pelo PT era sinal de "amadurecimento" do partido.

Poderia também estimular simulações das disputas entre um PMDB que se diz "protagonista" e um PT que diz por aí que livre do jugo de Lula terá muito mais de­­­­sen­­­­voltura e influência no poder. Tais ensaios poderiam incentivar questionamentos sobre a experiência e o conhecimento que a candidata tem nesse ramo.

Haveria mais curiosidade para destrinchar o pensamento da "presidenta", conhecê-la melhor, suas reações a cobranças profundas, a pressões e tensões.

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Isso antes de Dilma ser eleita o governo não deixará acontecer para não quebrar o encanto da fábula que ora conta ao país. Não pode correr o risco de se trocar o cenário de maravilhas dos palanques (reais, oficiais e eletrônicos) por um ambiente em que os dois principais partidos da coligação já se engalfinhem pelo poder.

Se o PMDB falar muito provocará, é claro, reação imediata no PT. Por isso é que os pemedebistas desmentem agora querer o que sempre assumiram querer: mando total nos ministérios, comando no Congresso, influência no núcleo de poder e muitos, mas muitos cargos mais.

No armário

PT e PSDB prometeram divulgar novas versões dos programas de governo de seus candidatos a presidente.

Os tucanos disseram que substituiriam os dois discursos de José Serra registrados na Justiça Eleito­­­­ral a título de programa pela divulgação ponto a ponto de uma elaboração construída a partir de sugestões via internet.

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Os petistas asseguraram que trocariam o documento aprovado em congresso do partido por uma proposta conjunta das legendas aliadas a Dilma Rousseff.

Até agora ambos estão deixando o dito pelo não dito. Pelo visto consideram desnecessário cumprir as promessas. Dá um trabalho danado e não vale a pena porque o assunto não é mais destaque no noticiário. Se voltar por algum motivo a ser, dirão que as propostas estavam "em elaboração".