A imagem da derrubada do laranjal da Cutrale no interior de São Paulo conseguiu tirar da toca o presidente Luiz Inácio da Silva, que, loquaz para questões que o interessam, sabe ser discreto quando o assunto não lhe convém. Invasões e toda sorte de transgressões cometidas pelo dito movimento social dos sem-terra, por exemplo.
"Todo mundo sabe que sou defensor das lutas sociais e de que o povo se manifeste. Agora, entre uma manifestação para reivindicar alguma coisa e aquela cena de vandalismo feita na televisão. Obviamente que não posso concordar com aquilo, porque não tem explicação para a sociedade você derrubar tantos pés de laranja apenas para mostrar que você está reivindicando", disse o presidente.
Como se vê, a imagem não foi suficiente para que o presidente abordasse o problema em sua real dimensão: a da opção pela transgressão à lei feita pelo MST, de forma premeditada desde o momento em que optou atuar sem ter configuração jurídica.
Lula, assim como seus ministros à exceção do titular da pasta da Agricultura, Reinhold Stephanes , continua fazendo de conta que não estamos diante de um problema de criminalidade. Para o presidente, o problema reside na forma, não no conteúdo. Enquanto o MST invadiu, depredou, feriu, houve casos em que matou, tudo certo. No momento em foi flagrada uma imagem que como reza o lugar-comum fala por mil palavras, a coisa passou do limite. Ou seja, o problema não é o MST desrespeitar a lei, mas fazê-lo de maneira acintosa, taticamente incompetente. E mais grave: em pleno Jornal Nacional.
O fato de a transgressão ser sustentada com dinheiro público tampouco entra no rol de preocupações de Lula e seus ministros. Ao contrário, esse aspecto é liminarmente condenado. Na teoria, o governo critica o recurso ao vandalismo. Na prática, porém, protege os vândalos quando mobiliza os partidos governistas no Congresso para impedir a instalação de uma CPI para investigar os repasses de verbas públicas ao MST.
Entidades como o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União falam em transferências de milhões, mas ninguém sabe ao certo o que se passa nessa relação entre os cofres do Estado e o MST. Antes da divulgação das imagens que provocaram as declarações de Lula, a "base" foi mobilizada para enterrar a CPI Depois disso, a oposição voltou a coletar assinaturas, mas o governo não mudou de posição.
O líder na Câmara, Henrique Fontana avisa que continua contra, o ministro da Reforma Agrária, Guilherme Cassel, tergiversa: "Se quiserem uma CPI geral sobre a agricultura, incluindo os repasses à CNA, tudo bem. Mas, uma CPI contra um movimento social, acho perseguição."
Não sendo ignorância, é má-fé. Contra o Estado de Direito.
Fino trato
O presidente licenciado do PMDB informa: não briga com Orestes Quércia, muito menos cogita de intervenção no diretório paulista por causa do apoio do ex-governador à candidatura presidencial do PSDB.
Não porque não desejasse um enfrentamento que pudesse levar São Paulo para o lado dos defensores da aliança com o PT. O problema é falta de condições objetivas para tal.
Antes de vencido o prazo de filiações partidárias, Temer até tentou convencer o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, a se candidatar a governador pelo PMDB e enfrentar o grupo de Quércia na convenção.
Skaf medrou, foi para o PSB e a chance passou. Agora, Temer reafirma o acordo fechado há dias com Quércia: cada um cuida do respectivo rebanho e, lá na frente, voltam a conversar sob a luz das circunstâncias. Segundo a direção do PMDB, os apostadores do conflito ou não pertencem ao partido ou estão sendo mais realistas que o rei.
200%
O presidente do PT, Ricardo Berzoini, avisa que Dilma Rousseff deve deixar o governo em fevereiro para se dedicar "100%" à campanha presidencial. Não informou quem, atualmente, se dedica 100% aos afazeres da Casa Civil enquanto Dilma roda o país em campanha.
Em cena
Avaliação do cineasta Fernando Meirelles de que o presidente Lula é o "maior ator do Brasil" não significa necessariamente um elogio.
Emblema
A propósito da leniência do poder público com as invasões o MST, o leitor S.P. conta a seguinte história: "Sete anos atrás, pedi à prefeitura de São Paulo que cortasse um ficus, que eu mesmo plantei e que destruía minha calçada, meu muro e parte da rua.
Passaram-se três anos e ninguém apareceu. "Resolvi acabar com o problema, pois a árvore crescia. Cortei a árvore e 15 dias depois recebi da prefeitura uma multa de R$ 289.
"Quanto ao MST, nem Ministério Público nem os defensores do meio ambiente nem ninguém causa dano algum."
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