Assinaturas contra Calheiros já dariam para fundar partido e apresentar projeto de lei. Até a última contagem já tinha ultrapassado a casa do 1,5 milhão e não parava de aumentar o número de adesões a um abaixo-assinado que corre na internet com a finalidade de levar ao Senado um pedido de impeachment contra o presidente da Casa, Renan Calheiros.

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Tecnicamente já seriam assinaturas suficientes para criar um partido (cerca de 500 mil) ou para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para o Congresso – é preciso que no mínimo 1% do eleitorado de pelo menos cinco estados assinem, hoje algo em torno de 1,4 milhão, considerando os cerca de 139 milhões de eleitores brasileiros.

Objetivamente, porém, o movimento não tem efeito. Nada a ver com a mobilização que levou à aprovação da Lei da Ficha Limpa em 2010.

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Interrupção de mandatos de congressistas não está entre os objetos de iniciativas populares, bem como, entre os motivos para perda de mandatos de deputados e senadores listados no artigo 55 da Constituição, não está o desejo de milhares ou milhões de cidadãos, expresso em abaixo-assinado. Virtual ou não.

Os criadores do movimento sabem disso. Tanto que avisam que o que pretendem é criar um fato político. "Fazer confusão" e chamar atenção para a deformação de se ter na presidência do Senado um parlamentar investigado em diversos inquéritos e recentemente denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal por desvio de dinheiro público e utilização de documentos falsos.

Há duas maneiras de ver esse episódio. A pessimista, que também poderia ser chamada de realista, encara isso como uma brincadeira inconsequente devido às ínfimas chances de o Senado se sensibilizar e decidir abrir outro processo por quebra de decoro parlamentar – por ora o único instrumento possível para se afastar Calheiros do posto para o qual acabou de ser eleito.

O outro modo de se olhar o protesto aparentemente inócuo é sob a perspectiva otimista de que há forças em movimento. Não daquela maneira que incentivou o Congresso a aprovar o impeachment de Fernando Collor, que acabou levando à anistia, ao apelo por eleições diretas, ao fim do regime militar: as grandes mobilizações de rua.

Agora há um novo jeito: por meio da internet. Parece algo acomodado, mas talvez assim pareça apenas por falta de costume e de mecanismos que ao mesmo tempo validem os protestos e sirvam como canais de transmissão até as instâncias onde possam ser materializados.

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Nesse caso de Renan Calheiros, não há prejuízo concreto que possa lhe ser imposto pelo ato do abaixo- assinado. Mas o Congresso terá de se dar ao trabalho de ouvir o barulho e à desfaçatez de ignorá-lo.

Capital inicial

Correm de novo no mundo político versões sobre fusões entre partidos. A fim de não incorrer em perda de tempo quando se ouvir falar nesse assunto, convém levar em conta um dado: em princípio a legenda nenhuma interessa incorporar-se a outra. Se extintas, não têm acesso ao dinheiro do fundo partidário, dão adeus ao tempo de propaganda no rádio e na televisão (instrumento de negociação sempre tão útil em anos eleitorais) e perdem prerrogativas congressuais destinadas exclusivamente a partidos com representação no Legislativo.

Picolés de chuchu

O PSDB já prepara o primeiro acontecimento para pôr na rua o bloco da candidatura presidencial do senador Aécio Neves: uma série de palestras que sirvam como instrumentos de reflexão sobre "temas contemporâneos". Enquanto isso, Dilma Rousseff reativa o palanque de 2010, Eduardo Campos abre alas e pede passagem para 2014 e Marina Silva lança um novo partido com foco na conquista da moçada cansada da guerra de lideranças antigas.

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