A eleição presidencial ainda está para entrar na fase da reta quase final para o primeiro turno de votação e o PMDB já ocupa espaço no noticiário com pose de fiador da estabilidade política, garantidor da boa governança.
"Sem o PMDB não se governa", disseram nesta semana em entrevistas distintas o vice-presidente da República e presidente do partido, Michel Temer, e o candidato a vice na chapa do PSB, Beto Albuquerque. Tangenciaram a realidade e afirmaram ambos uma meia-verdade.
Caso seja sobre apoio institucional que falaram, Itamar Franco não o teve e governou. Fernando Henrique Cardoso, tampouco. Contou com uma ala do partido, mas teve oposição ferrenha de outra.
Mas também podemos examinar a questão pelo aspecto do peso do partido nas decisões de governo. Quando aderiu ao PT de corpo e alma, na reeleição de Luiz Inácio da Silva, em 2006, recebeu do então presidente tratamento social e político de luxo, mas jamais dividiu verdadeiramente o poder com o PT.
No ato de adesão, apresentou uma carta-compromisso com sete pontos "exigidos" pelo partido, entre os quais crescimento do PIB acima de 5%, reformas política e tributária e redução dos gastos públicos.
Ninguém se emocionou com as exigências nem as comprou pelo valor de face. O PMDB continuou onde estava sem dar um pio a despeito de contrariado sobre os itens que considerava indispensáveis à boa governança.
Veio o governo Dilma Rousseff e com ele a explicitação do racha do partido em função da contrariedade extrema com o Palácio do Planalto. Motivo: o PMDB conquistou a vice-presidência, cinco ministérios e logo percebeu que, de concreto, havia recebido uma casa de reuniões com vista para o lago Paranoá (o Palácio do Jaburu, residência do vice) e nada mais.
Segundo relatos dos peemedebistas, eles nunca tiveram poder real nos ministérios nem influência de fato. Situação corroborada por Michel Temer em recente entrevista, ao falar sobre o papel do ministro Edison Lobão no Ministério das Minas e Energia: "Formalmente ele é o responsável pelo setor, mas na realidade não tem o controle geral".
Ora, se é assim, de onde vem a ideia de que "não se governa sem o PMDB?" Governa-se. Tanto se governa mal quanto se governa bem.
A questão é outra e não diz respeito à qualidade de administração das políticas públicas no Poder Executivo. Tem a ver, isto sim, com o menor ou maior grau de resguardo que o partido é capaz de dar ao Palácio do Planalto no Legislativo e, a depender da extensão e da longevidade das ligações de integrantes da cúpula, até no Poder Judiciário.
O PMDB é importante porque tem poder local. Prefeitos, vereadores, governadores, deputados, senadores, bancadas amplas que lhe garantem o comando do Legislativo, tempo de televisão em períodos eleitorais e disposição de negociar (ou não) esses ativos. Oferece proteção em troca da renovação dos instrumentos desse tipo de sobrevivência.
A isso dá o nome de governabilidade. Mas quem não nasceu ontem não é obrigado a acreditar.
Tempo do onça
Numa curiosa sequência, Luiz Inácio da Silva, José Sarney e João Pedro Stédile trataram Marina como "dona" naquele sentido pejorativo que certos homens de antigamente chamavam de "dona Maria" qualquer mulher ao volante.
No sábado passado, Lula disse que nunca falou mal de "dona Marina" e acrescentou: "Dona Marina não precisa contar inverdades a meu respeito para chorar". Na segunda-feira, Stédile ameaçou: "A dona Marina que não invente de botar as mãos na Petrobras que estaremos aqui todos os dias [em protesto na sede da empresa]". Na quarta, Sarney, por sua vez, afirmou: "Com essa cara de santinha, ninguém é mais radical e raivosa que dona Marina".
Um jeito rudimentar, antiquado e mal-educado de demonstrar menosprezo.
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