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O PT não incorporou só o que havia de melhor no PSDB – a defesa da estabilidade econômica –, aderiu também ao que há de pior: a lógica de que a realização de prévias como forma de escolha de candidatos faz mal ao partido.

Concepção, de resto, amplamente aceita e adotada pelas demais legendas que preferem ser cartórios de candidaturas a serviço das cúpulas a agremiações referidas nesta ou naquela corrente de pensamento político.

Uma das melhores características do PT ao longo de sua trajetória foi o exercício da democracia interna. Por vezes levada ao paroxismo na briga paralisante entre tendências, mas proveitosa no tocante à identificação entre o partido e suas bases.

É certo que a cúpula petista nem sempre respeitou os resultados, como no já célebre equívoco de 1997, quando ignorou a indicação de Wladimir Palmeira como candidato ao governo do Rio no ano seguinte, interveio em favor de uma aliança com Anthony Garotinho e iniciou o processo de declínio do partido no estado.

Mas, de um modo geral, era o único partido que tinha a consulta ampla como método de escolha de candidatos e de políticas a serem executadas.

A riqueza da vida partidária do PT se expressava na realização de encontros abertos que permitiam a todo tipo de interessado (militantes, simpatizantes, adversários, jornalistas, cientistas etc.) acompanhar o processo de tomada de decisão e de evolução do partido.

Isso foi sendo deixado de lado a partir da chegada do PT ao poder central. Como o PSDB praticamente nasceu já governo – foi fundado em 1988 e chegou à Presidência em 1994 –, talvez seja um cacoete do poder este de achar que consulta prévia sinaliza racha e, por isso, mais enfraquece que fortalece um partido.

Às vésperas de completar nove anos na oposição, os tucanos de quando em vez dão sinais de que pretendem adotar a fórmula da consulta – como agora em relação à prefeitura de São Paulo –, mas na hora H recuam. Se José Serra resolver ser candidato a prefeito, contestar internamente quem haverá de?

Nos tucanos o horror a prévias provavelmente tem origem no trauma do racha do PMDB explicitado na escolha da chapa que concorreu às primeiras eleições diretas para governador, em 1982. Do aprofundamento das divergências poucos anos depois surgiu o PSDB.

No PT, o processo de abandono daquilo que o partido tinha como vantagem comparativa guarda relação com a ascensão de Lula à posição de figura acima de contestação, infalível em suas escolhas.

A candidatura de Dilma Rousseff à Presidência foi fruto desse processo autocrático de decisão. Ainda não está resolvido se Lula acertou: se ganhou a eleição porque soube escolher ou se naquelas circunstâncias ganharia qualquer um ungido por ele.

As preferências dele em termos ministeriais não foram assim tão acertadas, conforme estamos vendo na atual sequência de crises envolvendo seus indicados.

Cumpre lembrar que Antonio Palocci era o candidato predileto do então presidente para concorrer ao governo de São Paulo. Se tivesse vingado, hoje teríamos uma complicação que não se resolveria com a simples demissão.

Igual método o ex-presidente prepara-se para implantar na escolha dos candidatos a prefeito país afora, notadamente em São Paulo, onde cismou que o melhor é o PT se livrar das lideranças tradicionais e apostar no ministro da Educação, Fernando Haddad.

Para ganhar eleições, quando se detém a Presidência da Repú­blica, a imposição pode até funcionar. Mas e depois?

No caso de Dilma, a desconexão entre a escolhida e o partido se manifesta na dificuldade que o PT tem em incorporá-la como "sua". A todo instante Lula precisa pedir aos petistas que a apoiem. Não há uma adesão natural.

Fruto, claro, do processo artificial de escolha.

E o destino do partido, quando, e se, voltar à oposição? Terá deixado de lado um patrimônio conquistado ao longo de anos na construção do compromisso coletivo de identificação partidária para se tornar mais uma entre tantas legendas sem alicerces nos quais amparar uma reconstrução.

Prova é o PSDB.

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