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Dizer que a senadora Mar­­ta Suplicy "concorda" em desistir da candidatura à Prefeitura de São Paulo é quase uma licença poética.

O anúncio da desistência, previsto para hoje, significa apenas que o ex-presidente Lu­­la, por intermédio da presidente Dilma Rousseff, deu a Marta a prerrogativa de comunicar a retirada. Espera-se no PT que ela o faça alegando compreender que é o "melhor" para o partido.

A julgar pelo que disse Marta há pouco tempo, não é o que ela pensa de verdade. Em mais de uma ocasião a senadora falou que Lula só continuaria investindo na candidatura de Fernan­­do Haddad se quisesse perder a eleição.

Disse também que Lula po­­dia muito, mas não podia tudo dentro do partido. Não foram exatamente essas as palavras, mas na essência foi isso. Mostra­­va-se disposta a confrontar o chefe, que, como se vê pela po­­sição da seção paulista do PT e até por declarações da direção nacional, continua podendo tu­­do e mais um pouco.

Marta Suplicy é hoje a mais bem colocada nas pesquisas de opinião e, na avaliação de gente graúda do principal partido adversário, o PSDB, com chance concreta de vitória.

Não é o que se diz no PT na­­cional. Ali a avaliação segue a cartilha de Lula: Marta tem alta rejeição, quase perdeu a vaga no Senado para Netinho de Paula e, de mais a mais, alega-se que o partido deve investir em nomes "novos", gente com perfil mais adequado à captura do eleitorado de classes média e alta.

A senadora é boa de periferia, reconhece a cúpula. E, por isso mesmo, fundamental para a campanha de Haddad.

Semanas antes de a presiden­te Dilma comunicar – segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto num encontro sem maiores solenidades no Aeroporto de Congonhas – a Marta que chegara a hora da retirada, o dilema dos petistas era justamente encontrar uma maneira de fazê-la desistir e, ao mesmo tempo, levá-la a pôr seus préstimos eleitorais a serviço de Haddad.

O momento em que Lula está em tratamento de câncer, alvo da solidariedade geral, pareceu o ideal. Marta vai insistir? Não teria como, até pensando em lances futuros.

A troca da candidatura por um ministério, um ministro com assento entre os conselheiros políticos da presidente é difícil, não faz o gênero dela. O apoio a uma candidatura ao governo de São Paulo em 2014 bate de frente com o argumento de que o PT precisa investir em nomes novos.

Mas por que não deixá-la ir às prévias? Porque sem a desistência dela os outros pré-candidatos também não desistiriam, o partido se dividiria e Marta Suplicy correria o risco de ganhar.

Contra-ataque

A despeito da pressão da base aliada por liberação do dinheiro de emendas ao Orçamento para votar a prorrogação da Des­­vinculação de Recursos da União (DRU), o governo não dá à questão a mesma dimensão que teve a CPMF.

Acha que dispõe de argumentos muito mais sensíveis aos ouvidos da população. A DRU dá ao governo autorização para manejar parte do Orça­mento como quiser. Portanto, não se trata, como no caso do imposto do cheque, de mexer no bolso do contribuinte.

De onde o palácio, se preciso for, dirá que o Congresso está apostando na paralisação de programas importantes para a população. Os de transferência de renda, por exemplo.

Repare bem

Exigem ficha limpa de quem denuncia corrupção, mas não se olha o estado da ficha de candidatos a nomeados ou a entidades conveniadas.

Os petistas alegam que "men­­­­salão" é uma figura de lin­­guagem inventada pela im­­prensa, mas aceitam a definição quan­­do se trata do campo adver­­sário: mensalão do DEM, mensalão tucano, mensalão mineiro etc.

O uso de organizações go­­vernamentais para desviar dinheiro público nos ministérios explica o fracasso da CPI das ONGs, criada na legislatura passada e enterrada sob o gentil patrocínio da maioria governista.

A alta abstenção (mais de 26%) do Enem neste ano guarda relação direta com a perda de confiabilidade do exame.

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