Pelo revés na formação do palanque para José Serra no Rio de Janeiro a direção nacional do PSDB realmente não esperava. Ao contrário. Os tucanos andavam se jactando de que estavam muito mais adiantados que o PT na formação dos palanques regionais nos três principais colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
São Paulo, tudo certo com Geraldo Alckmin, candidato disparado nas pesquisas; Minas, sob a administração do ex-governador Aécio Neves; no Rio, com Fernando Gabeira de candidato a governador, dividindo palanque com Marina Silva, numa aliança de quatro partidos: PSDB, PV, PPS e DEM.
Agora, embora não se possa dizer que a situação tenha se invertido, constata-se, no mínimo, um abalo. Só São Paulo segue sendo um porto seguro.
Mesmo assim, o adversário que estava perdido entre a indefinição total e uma situação quase esdrúxula de ter Ciro Gomes como candidato do PT, hoje já pode apresentar nome definido: Aloizio Mercadante.
No PT de Minas permanece a pressão pela candidatura própria e a contrapressão do Planalto pelo apoio à candidatura de Hélio Costa do PMDB. Mas no PSDB reina uma tênue, sutil, quase imperceptível insegurança a respeito do grau de empenho de Aécio Neves na campanha de José Serra.
Mas a desarrumação mesmo, explícita, deu-se no Rio de Janeiro, terceiro colégio eleitoral.
O presidente do PV, Alfredo Sirkis, e a vereadora Andrea Gouveia Vieira, do PSDB, comandam uma rebelião contra a presença do DEM na aliança. Mais precisamente contra a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia a senador.
Argumentam, grosso modo, que há rejeição da classe média ao ex-prefeito e pressionam o candidato a governador, Fernando Gabeira, a anunciar o rompimento.
O PSDB nacional já entrou em cena para impedir que se desfaça a coligação. Com alguma dificuldade, diga-se, porque o presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia, resolveu agredir Gabeira, que, na verdade, era o menos interessado na confusão.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, estará hoje no Rio, mas a discussão do problema deverá ser adiada para a semana que vem, a fim de evitar que as animosidades contaminem o lançamento da candidatura presidencial no próximo sábado.
E qual é a posição da direção nacional?
Simples. Ou se faz a coligação com todos ou não se faz coligação com ninguém, porque todos precisam de todos.
Serra precisa de Gabeira para ter um bom candidato a governador. Gabeira precisa do PSDB para ter tempo de televisão. Ambos precisam do DEM para aumentar o tempo de televisão e ganhar densidade em termos de estrutura partidária. Marina, como candidata a presidente, também precisa de Gabeira, que precisa do PSDB, que precisa do DEM, que precisa de Gabeira, que precisa de Serra.
Resumindo: política, eleitoral e friamente falando, soltos, cada um dos quatro partidos em questão não somam meio. No máximo flanam pelo cenário brincando de amarelinha.
Bom combate
A título de provocação, o PSDB pôs o tema da ética na mesa e o PT, a fim de não parecer acuado, aceitou o debate de pronto. Foi um avanço, já que não faz muito tempo as duas principais forças políticas avaliavam que o assunto estaria fora do cenário eleitoral.
Primeiro, porque o eleitorado teria outras prioridades na vida antes de discutir coisas que só interessam a "falsos moralistas", os chamados udenistas de plantão desde a extinção dos partidos pré-ditadura.
Depois, segundo esses autores, a discussão estaria interditada por conta da existência de escândalos nas searas governista e oposicionista. Foram defendidas teses profundas a respeito da política das mãos sujas.
A ideia ganhou reforço especial no fim do ano passado, quando surgiu o caso Arruda, então governador do Distrito Federal filiado ao DEM, principal aliado do PSDB.
Diante daquele acordo tácito segundo o qual a ética estaria fora do debate político, por um nefasto zero a zero entre o roto e o esfarrapado, é motivo de celebração a entrada desse item na agenda de campanha.
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