A Câmara dos Deputados está evitando cumprir sentença judicial sobre fidelidade partidária, com um objetivo claro: postergar ao máximo a criação de um precedente de perda de mandato federal por troca de partido, até que o Parlamento crie uma saída para legalizar as mudanças durante um período determinado.
Para isso, se escora no falso argumento de que é preciso aguardar uma manifestação do Supremo Tribunal Federal para só então fazer valer a regra em vigor há mais de um ano. Apoiada nessa alegação, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou nesta semana um parecer favorável à preservação do mandato do deputado Walter Brito, que mudou do DEM para o PRB no ano passado e, há sete meses, perdeu a condição de ser deputado conforme determinação do Tribunal Superior Eleitoral.
A CCJ, com o aval do presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, usa de um sofisma simplesmente porque o Supremo já se manifestou a respeito. No dia 4 de outubro do ano passado, por oito votos a três, confirmou a decisão tomada em 27 de março do mesmo ano pelo TSE que dá a posse dos mandatos aos partidos e não aos candidatos eleitos.
Na essência, não há coisa alguma em aberto nessa questão. A Câmara sustenta sua posição no fato de existir uma representação do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, pedindo que o STF se manifeste a respeito.
Pois bem: quando o tribunal vier a fazê-lo, a menos que o faça daqui a muitos anos quando a composição do plenário será outra, obviamente repetirá a decisão de 4 de outubro de 2007: quem mudou de partido sem motivação bem fundamentada deve devolver a vaga à legenda pela qual foi originalmente eleito.
Na época, o STF deixou claro que os casos seriam examinados individualmente pela Justiça Eleitoral à qual caberia a última palavra. Foi o que aconteceu com o deputado Walter Brito. Mudou de partido em setembro de 2007 e passados cinco meses, em março último, o presidente do TSE, ministro Carlos Ayres Britto, determinou a perda do mandato.
Até hoje a Câmara não cumpriu a sentença e, a despeito da posição oficial do presidente da Casa de "seguir a decisão da Justiça", não tem a menor intenção de fazer um gesto que possa criar um precedente antes da aprovação de um artifício legal para permitir as trocas e, assim, fugir à rigorosa, porém claríssima, interpretação da Justiça a respeito.
Tanto o TSE quanto o STF entenderam que os mandatos pertencem aos partidos porque, por exigência constitucional, ninguém é candidato em si; o acesso ao mandato é obtido exclusivamente por meio da legenda partidária, o que veda ao eleito o direito de dispor da delegação obtida nas urnas como bem entender.
Na primeira decisão da Justiça Eleitoral a Câmara se recusou a devolver as vagas dos trânsfugas. Os três partidos que mais tinham sofrido perdas, PSDB, DEM e PPS, entraram com mandado de segurança junto ao Supremo que confirmou a tese e remeteu o exame de cada caso ao TSE.
Determinou, portanto, que a Justiça Eleitoral teria o condão de decidir, exatamente como fez o ministro Carlos Ayres Britto em relação ao deputado Walter Brito.
Mas, como a Câmara precisa ganhar tempo, levou o assunto à Comissão de Constituição e Justiça obviamente majoritária na posição de contornar as normas da fidelidade no aguardo da entrada em discussão da reforma política proposta pelo Planalto.
Reforma esta cujo único ponto de consenso nos partidos governistas é a liberação geral para as trocas de partidos por um período de 30 dias, seis meses antes das eleições.
Contrapartida
O PT "recuou" da ofensiva na Câmara e resolveu apoiar a candidatura do pemedebista Michel Temer para a presidência da Casa, independentemente da posição do PMDB no Senado, contrário à candidatura do petista Tião Viana.
Considerando que a bancada de senadores do PMDB não fará a gentileza da recíproca e terá para isso todo o apoio da oposição, trata-se, em princípio, de uma trégua com prazo de validade.
O recuo é uma maneira de tentar evitar confrontos recentes entre aliados nas disputas pelo comando no Legislativo, todos eles com desfecho desfavorável ao governo, e negociar.
A oposição, claro, aposta na briga entre PT e PMDB, mas não põe nela todas as fichas porque ainda faltam dois anos para terminar o governo Lula.
Pelo manual da parceria pragmática, não é hora para rompimentos e, portanto, como há interesse de parte a parte, alguém no momento apropriado irá ceder.
Legado
Quem sai aos seus não degenera, ensina o dito confirmado pelo prefeito eleito do Rio, Eduardo Paes, que anuncia a restauração da ordem pública como a prioridade de sua administração.
É a palavra de ordem da primeira campanha do atual prefeito César Maia nos idos dos anos 90, quando lançou Eduardo Paes na carreira política.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo