Olhando a composição do pódio, 2014 dá a impressão de repetir a primeira rodada de 2010 em termos de resultado: PT na frente, PSDB em segundo refletindo o mano a mano de sempre (agora pela sexta vez em 20 anos), a tentativa de terceira via de novo de fora e mais uma vez personificada por Marina Silva.
Descontadas pequenas variações para mais e para menos, os desempenhos numéricos também foram relativamente parecidos com os da eleição anterior. Dilma Rousseff piorou bem, mas manteve a liderança; Aécio Neves teve um ponto a mais que José Serra e Marina superou-se em apenas dois, ficando no patamar dos 20%.
O governo confirmou supremacia no Norte e Nordeste, o PSDB a preferência no Sudeste e Centro-Oeste. Terminam aí as semelhanças. No mais, o cenário é inteiramente diferente não só em relação a 2010, mas também na comparação com os de 2002 para cá em que no enfrentamento direto os petistas fortalecidos e unidos bateram tucanos acuados e divididos.
Isso não significa que o governo entra em campo enfraquecido para a batalha do segundo turno. Nem de longe. Continua contando com muitas vantagens. Só não pode mais contar com todas elas. Por exemplo, uma de fundamental importância: base de apoio social. Fator que já permitiu ao partido apresentar qualquer versão sobre seus comportamentos, inventar o que bem entender a respeito de seus adversários e sair incólume diante da sociedade.
Foi por receio da liderança de Luiz Inácio da Silva aliada à força de base do PT que em 2005 a oposição não quis confrontar o então presidente quando o publicitário Duda Mendonça disse na CPI dos Correios que havia recebido dinheiro "por fora" para fazer a campanha de Lula em 2002. Pelo mesmo motivo, as duas candidaturas presidenciais tucanas de 2006 e 2010 evitaram ataques frontais a ele na ilusão de que assim preservariam votos.
Era medo do PT. Geraldo Alckmin até tentou enfrentá-lo em debate do primeiro turno, mas foi mal visto pelo público. No segundo, caiu naquela armadilha das privatizações tentando se mostrar mais estatizante que o PT e foi o que se viu: vestiu um colete cheio de adesivos de estatais e espantou seu eleitorado.
A situação agora é outra. São Paulo deu a senha e o PT entendeu o recado: o cristal da inviolabilidade foi definitivamente trincado. E com o rompimento dessa blindagem, foi-se também a razão para a oposição ter medo do PT e, por que não dizer, de Lula. Isso leva o PSDB com muito mais desenvoltura ao embate, libera o ex-presidente Fernando Henrique para articular o apoio de Marina Silva e confere nitidez ao debate.
A votação de Aécio Neves no estado surpreendeu os petistas, bem como a dianteira de José Serra sobre Eduardo Suplicy na eleição para o Senado.
Na avaliação de alguns deputados e do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ainda na noite de domingo, o partido não tem como escapar de fazer uma análise franca e detalhada sobre as razões do prejuízo que atingiu a bancada federal e de maneira bastante acentuada, a estadual.
No primeiro momento, todos concordam que o PT não soube avaliar corretamente a extensão do repúdio ao partido por não ter dado atenção aos efeitos que os desvios de conduta de alguns poderiam causar em todos na medida em que a cúpula e mesmo o governo não reagiu de maneira incisiva às denúncias de corrupção. Na opinião do deputado federal Arlindo Chinaglia, houve uma preocupação excessiva e exclusiva em enumerar os feitos do governo. "Abdicamos de fazer política."
A questão agora é se dá tempo de mudar o cenário, uma vez que São Paulo tem um peso extraordinário na contabilidade geral dos votos e que as votações de Aécio Neves e Marina Silva, somadas (55% contra 41%), indicam claramente que o desejo de mudança venceu o medo de romper o imobilismo. No quadro de muitas dúvidas só uma coisa é certa: o mano a mano será pesado.
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