O ex-prefeito Gilberto Kassab não precisa sequer assumir o ônus de romper o compromisso firmado com a presidente Dilma Rousseff de apoio à sua reeleição. Basta que na convenção do PSD (ainda sem data certa) deixe o partido decidir o que achar melhor.
Se Kassab liberar o voto, o resultado mais provável será o apoio ao tucano Aécio Neves, embora haja também a possibilidade de uma decisão pela neutralidade. A aprovação da aliança com o PT só ocorrerá se Kassab disser de modo explícito que assim o PSD deve fazer. Não há, como ocorreu no PMDB, a hipótese de rebelião contra a decisão da cúpula, no caso um homem só que não será submetido a constrangimento pelo partido. Se ele quiser, o PSD vota a favor, embora não veja sentido algum na manutenção de uma parceria na qual enxerga absoluta ausência de vantagens.
Isso, claro, devido à queda da presidente nas pesquisas, seus altos índices de rejeição e à avaliação interna de que a recuperação é praticamente impossível. Ademais, no quadro das alianças regionais, o PSD só está junto com o PT na Bahia; e estabeleceu parcerias com o PSDB em estados importantes como Minas, Rio, Paraná e Goiás.
Sem contar São Paulo, onde o jogo maior ainda está em andamento com a possibilidade de Kassab vir a ser vice na chapa pela reeleição do governador Geraldo Alckmin. Caso essa união venha a se concretizar, a parceria entre os dois partidos se solidifica de maneira a abrir espaço para negociação mais ousada: a coligação no âmbito nacional com a entrega da vice de Aécio Neves ao PSD na pessoa de Henrique Meirelles.
Para isso, porém, seria necessário que o partido de Kassab desconsiderasse a palavra empenhada com Dilma Rousseff. E é aí que o ex-prefeito de São Paulo precisaria fazer o gesto de delegar a decisão à convenção do partido. Levando em conta esse dado é que o senador Aécio Neves resolveu adiar o anúncio de seu companheiro de chapa para o último dia do prazo legal, 30 de junho. Antes estava decidido a escolher um tucano de São Paulo para apresentar na convenção do último sábado.
No PSDB o que se diz é que o adiamento se deve à necessidade da espera de alguma "adesão importante". Ora, entre as possibilidades não há nenhuma do calibre do PSD. Pelo tempo de televisão (1 minuto e 56 segundos) e pelo significado da adesão de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante os dois governos de Luiz Inácio da Silva e agora crítico da política econômica do governo Dilma Rousseff. Essa operação, porém, não é fácil. De um lado, para se unir a Kassab, Alckmin precisa se dispor a engolir um sapo robusto, considerando suas relações inamistosas com o ex-prefeito. De outro, a oferta da vaga de vice na chapa de Aécio teria de ser formalizada e isso até agora não aconteceu.
Nova onda
Apesar da constatação de que os insultos na abertura da Copa acabaram beneficiando a presidente, não haverá reforço de marketing da vitimização de Dilma. Isso porque, se a presidente resolvesse se imolar em público, aumentando a exposição para receber manifestações de solidariedade, as pessoas perceberiam que estaria querendo tirar proveito político do Mundial e, da limonada, faria um limão.
Própria voz
Por enquanto, o ex-presidente Lula tem se encarregado de responder aos ataques da oposição. Do governo, foram escalados para a função os ministros Aloizio Mercadante, José Eduardo Cardozo e Tereza Campello. A partir de sábado, quando a convenção nacional do PT fará de Dilma Rousseff a candidata oficial do partido à reeleição, a ideia é que ela responda pessoalmente aos oponentes. Naturalmente sem dispensar Lula da condição de principal porta-voz do combate.
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