O país todo sabe desde a campanha eleitoral que Dilma Rousseff pretendia fazer um governo de "continuidade". Para a eleição isso bastou.

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Nos primeiros dias de governo da presidente soubemos que a manutenção do conteúdo implicaria uma alteração significativa da forma, marcada pela diferença de estilo em relação ao antecessor

De um governo, no entanto, exige-se (ou deveria ser exigido) mais que conceitos vagos e mudança de maneiras. É preciso que o país tenha claro quais são seus objetivos, aonde vai e como pretende chegar lá.

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Isso, mais de um mês depois, ainda não se sabe a respeito do governo iniciante. Chamá-lo de "novo" seria uma impropriedade linguística, em face da opção pelo uso de material usado em sua composição.

Ao apresentar suas diretrizes ao Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff poderia ter alterado essa percepção, mas escolheu não fazê-lo, perdendo uma excelente oportunidade de explicitar seu projeto de Brasil aos brasileiros.

Ficou na repetição dos feitos passados, no diagnóstico de metas, nas proposições genéricas – erradicação da miséria, ampliação de oportunidades, política econômica consistente – e nas constatações óbvias.

Entre elas prioridades às áreas de educação, saúde e segurança, apresentadas sob o invólucro do surrado apelo ao "pacto social", à formação de "parcerias sólidas" e "ações integradas" entre municípios, estados e União.

Pois bem, mas como o governo pretende desatar os nós que amarram o Brasil ao passado? A presidente reafirmou compromisso com a estabilidade econômica esquecendo-se de que só se chegou a ela mediante um programa muito nítido de reformas estruturais iniciado no governo Fernando Collor, aprofundado nas administrações Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, precisando ainda ser consolidado com a conclusão das reformas restantes.

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Sobre elas a presidente referiu-se de passagem, citando apenas duas (política e tributária) e, ainda assim, sem especificar o que realmente quer o governo.

Mostrou disposição de trabalhar em prol dos "superiores interesses do Brasil", em conjunto com o Congresso, o Judiciário, a sociedade. Faltou dizer em que termos.

De maiorias

Nem se pode dizer que o governo tenha feito barba, cabelo e bigode no Congresso, pois não houve disputa de coisa alguma nas eleições das presidências da Câmara e do Senado.

A rigor, não houve sequer troca de comando. Na véspera o senador José Sarney e o deputado Marco Maia já ocupavam os postos para os quais foram eleitos no dia seguinte.

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A maioria agora acachapante funcionará como dantes: eficaz como instrumento de defesa no caso de escândalos que requeiram CPIs e similares, mas dependente de negociações específicas no caso de votações de projetos de interesse do governo.

Faro fino

O PSDB reivindicou e conseguiu ocupar a 1.ª secretaria do Senado. Ali, de onde o ex-senador Efraim de Morais (DEM-PB) saiu carregando acusações de contratação de funcionários fantasmas e fraudes em licitações, estão concentradas as causas dos escândalos administrativos da Casa.

É de se observar qual será a atitude dos tucanos para compreender o motivo da ambição pelo posto, porque só há duas possibilidades: consertar os malfeitos ou tirar proveito deles.

Capitania

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José Sarney mobiliza sua tropa, incluídos ministros de Estado, para "ajudar" na tentativa de eleger Renan Calheiros seu sucessor na presidência do Senado.

Ao mesmo tempo o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, já se comporta em público como futuro presidente da Casa, em cumprimento ao acordo de alternância com o PT.

Portanto, o PMDB está firme no propósito de daqui a dois anos acumular a Vice-Presidência da República com as presidências da Câmara e do Senado.