É de praxe: sempre que estoura um escândalo ou surge uma desconfiança de caráter ético envolvendo políticos, defende-se a reforma política como a solução de todos os males.
Semana passada ficou pronta e começa agora a tramitar no Senado a proposta de reforma com sete emendas à Constituição e quatro projetos de lei.
Nenhuma das sugestões vai ao centro das questões, nenhuma delas propõe mudanças realmente capazes de corrigir velhas práticas e extinguir antigos vícios.
A emenda sobre suplentes de senador reduz de dois para um o substituto, proíbe que seja cônjuge ou parente até segundo grau do titular, mas mantém a deformação de origem: a existência do senador sem voto.
A proposta de mudança da data da posse de eleitos, transferindo de 1.º de janeiro para 15 de janeiro a posse do presidente e para 10 de janeiro a de governadores e prefeitos, corrige um equívoco da constituinte de 1988, mas é só.
Bem como não mexe em nenhuma essência o fim da reeleição. Apesar das alegações moralizantes sobre o uso da máquina, não impede o abuso. Se o governante quiser exorbitar do poder em favor de um aliado o fará, como de resto fez Lula em prol da candidatura de Dilma Rousseff.
Igualmente anódinas são as sugestões que põem fim às coligações partidárias nas eleições proporcionais e permitem o registro de candidaturas avulsas em eleições municipais, independente de filiação partidária.
No que se refere ao sistema eleitoral, este sim o ponto crucial, o voto distrital sequer foi cogitado. O que se propõe são listas fechadas, transferindo do eleitor para os partidos a escolha de deputados e vereadores.
A última emenda propõe que alterações em legislação eleitoral sejam submetidas a referendo.
Os quatro projetos tratam de domicílio eleitoral, fidelidade partidária, financiamento público e cláusula de desempenho.
Aqui tampouco os senadores se propõem a fazer correções que rendam benefícios ao eleitor ou ensejem aperfeiçoamentos institucionais. Proibir transferência de domicílio eleitoral a prefeitos durante o mandato não muda nada.
Quanto à cláusula de desempenho eleitoral mínimo para que o partido possa ter representação parlamentar, a modificação é apenas a inclusão da exigência da eleição ter pelo menos três deputados em três diferentes estados por partido.
O financiamento público da forma como é proposto não garante o fim do caixa 2 nem assegura nada além do dispêndio de dinheiro do orçamento.
Já o projeto sobre fidelidade partidária limita-se a sacramentar o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, hoje em contestação no Supremo, de que a criação de um novo partido é causa justa para a troca de legenda sem o risco da perda do mandato.
Isso não é reformar, é maquiar e manter tudo como está.
De mal a pior
O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, "denunciou" que saiu da prefeitura de São Paulo a informação sobre a evolução patrimonial do ministro Antônio Palocci.
E daí? A identificação da fonte não desmente os fatos.
O PT tem expertise na área. Na oposição, uma longa folha de serviços prestados ao uso de informantes em órgãos públicos para denunciar adversários.
No governo, bem pior: o uso da máquina do Estado para tentar intimidar adversários, vide a invasão da conta do caseiro na Caixa, a confecção de dossiê contra Fernando Henrique na Casa Civil e quebra do sigilo fiscal de tucanos na Receita Federal.
Todos esses estratagemas só evidenciam que Palocci não se defende porque não pode.
Sociedade anônima
O PT cobra de seus filiados, eleitos e nomeados para cargos de confiança entre 2% e 20% de seus salários a título de dízimo. Não está claro se a regra se estende à totalidade dos rendimentos.
Se for extensiva, o partido é sócio beneficiário do espetáculo do enriquecimento do ministro Antonio Palocci.
Se não for, fica a ideia para o PT reivindicar um adicional.
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