Dilma Rousseff bate recorde de aprovação popular, batendo até o antecessor tido como imbatível. Consolida, assim, o crescimento da hegemonia governo/petista que se expandiu do Congresso para a sociedade e aumenta gradativamente desde a eleição de Luiz Inácio da Silva em 2002.
A última pesquisa Ibope mostra Dilma com índices de popularidade inéditos na comparação com os primeiros anos dos dois mandatos de Lula e de Fernando Henrique e carrega consigo duas notícias. A boa é que a maioria se sente bem e isso é ótimo. A má é que com números tão robustos o governo se sente no direito de tocar o barco em frente sem prestar atenção ao que de positivo o contraditório contém como material de trabalho para avançar por terrenos onde hoje viceja o atraso.
Popularidade é bom e todo mundo gosta. Rende votos, vitórias eleitorais, aumenta a perspectiva de poder, infla egos, mas cria cacoete de comportamento, alimenta vocações autoritárias e, por isso, o ideal é que seja usada em prol do coletivo e não do projeto de um só partido.
Evidentemente, não se propõe que o governo divida suas glórias com a oposição, muito menos que não faça uso eleitoral da vantagem que detém. O jogo democrático, óbvio, tem na disputa política sua preliminar. Mas, não precisa necessariamente limitar-se a esse objetivo. Até porque popularidade não é atributo que tenha por si garantia de permanência. Como vem, vai.
Se há espírito público, o ideal é que no momento do auge essa força seja usada como instrumento de transformação. Uma arma de aperfeiçoamento, cujo manejo leve em conta uma velha lição: quanto mais poderoso é o poder mais o governante deve compartilhá-lo com seus governados. Do contrário, o mandatário altamente popular tende a ouvir só o que lhe interessa e a dizer só o que lhe convém, sem se considerar na obrigação de conferir substância e coerência às suas palavras.
Foi o que aconteceu na entrevista que a presidente deu na sexta-feira. Para começo de conversa, previu um crescimento de 5% no PIB para 2012. Qual o raciocínio utilizado para chegar à conclusão? Nenhum. "Meu cenário é otimista", afirmou Dilma, reduzindo sua tese a mera conjectura. Algo autoritário, porque parte do pressuposto de que uma frase presidencial tenha o condão de conduzir uma realidade.
A presidente tampouco foi fiel aos fatos ao comentar o caso do ministro Fernando Pimentel que, segundo ela, "não tem nada a ver com o governo". Teria a ver com o quê, então? Posta diante da comparação com o episódio envolvendo Antonio Palocci, fantasiou: "Ele quis sair". Não quis, resistiu por 23 dias, saiu quando já era impossível ficar e foi incorporado à dita "faxina" como indicativo da intolerância da presidente em relação a "malfeitos". Mas, se for verdade que Palocci só saiu porque quis, chega-se à conclusão de que por vontade de Dilma teria ficado. Onde coerência da intolerante?
Com a mesma superficialidade própria dos que estão com a vida ganha e, portanto, não se acham devedores de conferir maturidade ao diálogo com o país, a presidente falou sobre a reforma ministerial.
Rechaçou a hipótese de reduzir o número de ministérios "não me venham com essa conversa, não é isso que faz a diferença no governo" , choveu no molhado "não tenho compromisso com qualquer prática inadequada" e não disse o que pensa mesmo sobre o modus operandi da coalizão. Avisou apenas que todos terão "uma surpresa". Um sinal de qual seria o rumo? Não deu. Um vislumbre de que haveria mudança de critérios para nomeação de ministros?
De novo a afirmação carente de substância: "Quero que cada vez mais os critérios de governança sejam os critérios internos do governo, que nenhum partido interfira em questões internas". E quais são os "critérios de governança"? Por enquanto, o único visível disse respeito ao direito de todos os partidos cujos ministros caíram em meio a escândalos de corrupção, tiveram de indicar os substitutos.
Pode ser que a presidente altere essa lógica e resida aí a "surpresa" anunciada. Se for isso, terá finalmente dado à sua imensa popularidade uma boa utilidade pública.
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