Os deputados Eduardo Cunha (PMDB) e Arlindo Chinaglia (PT) divulgaram as respectivas plataformas de campanha com as quais pretendem convencer seus pares, daqui a dez dias, a votarem neles para presidente da Câmara.
O posto não é uma irrelevância do ponto de vista da República nem se presta ao abrigo de um capricho pessoal desse ou daquele político. Guarda estreita relação com os interesses da população em geral.
O presidente da Câmara dos Deputados é o segundo na linha de sucessão, depois do vice-presidente em caso de vacância da presidência da República; controla a pauta de votações da Casa. Em última análise depende dele a aceitação de pedidos de impeachment presidenciais e de instalações de comissões parlamentares de inquéritos.
Trata-se de pessoa de muito poder, embora a maioria da população não se dê conta disso. De onde as disputas pelos comandos das Casas do Congresso ocorram distantes do crivo popular. Os candidatos falam como se os compromissos dissessem respeito unicamente ao público interno.
Assim estão postas as plataformas de Cunha e Chinaglia. Ambos falam como quem se dirige a um público restrito aos 513 parlamentares da Casa, sem conexão com os milhões de eleitores que os levaram até lá nas últimas eleições.
Prometem equiparar salários do Legislativo ao teto do Executivo e do Judiciário, a fim de evitar o desgaste de votações separadas para reajustes; acenam com a construção de um novo prédio de RS$ 400 milhões para abrigar novos gabinetes, aumento de verbas extras e toda uma gama de melhorias internas.
Isso atende às expectativas do público interno, bastante para eleger um ou outro. Eleitorado insensível aos ecos de possíveis efeitos da Operação Lava Jato sobre os concorrentes às presidências da Câmara e do Senado.
Ocorre, porém, que por menos que o "público externo" se dê conta agora, a disputa do próximo 1.º de fevereiro não diz respeito apenas às internas do Congresso. Está em jogo a conduta do Legislativo.
Os dois candidatos principais iniciaram suas campanhas falando em "independência" da Câmara e agora jogam ambos na bacia das almas das promessas impossíveis de gastos dependentes de um Executivo em ritmo de contenção. Não será por aí a definição de votos.
De néscios os parlamentares não têm nada e saberão distinguir a distância entre o prometido e a realidade das medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda. O Legislativo não produz verbas. Estas vêm do Executivo e, neste cenário, tão cedo não virão.
Logo, o discurso dos dois candidatos à presidência da Câmara não apenas contraria o anseio geral à contenção, como esbarra no projeto nacional (que os dois dizem representar) de economia de gastos. Além de transitar na contramão de tudo o que pensa a opinião pública.
Conjunto da obra
Os envolvidos no escândalo da Petrobras começam a trocar acusações em público. A empresa aponta Paulo Roberto Costa como responsável pelo superfaturamento nas obras da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. O ex-presidente Sergio Gabrielli responsabiliza o conselho de administração presidido por Dilma Rousseff, obrigando o Tribunal de Contas, mais dia menos dia, a esclarecer a situação.
Circunstância que ficou ainda mais nebulosa depois de a presidente ter dito, no início de 2014, que havia assinado o parecer favorável à compra da refinaria de Pasadena com base em relatório jurídica e tecnicamente falho da diretoria da área internacional da Petrobras.
Em empresa como a Petrobras não é crível que um diretor apenas tenha poder para direcionar negócios do porte de Abreu Lima. Se tiver, é sinal de que não há controles internos eficientes na empresa.
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