O alto comando da campanha de Dilma Rousseff, aquele residente um andar abaixo do ocupado pelo presidente Luiz Inácio da Silva, gostou do debate realizado pela TV Bandeirantes não só porque a candidata sobreviveu sem ferimentos graves.
O que agradou mesmo foi o clima "morninho", como definiu menos de 24 horas depois um mandachuva da equipe.
"Para nós está bom assim, o rio correndo para o mar. Se continuar no mesmo ritmo a eleição está ganha."
Quer dizer, sem sobressaltos, sem lances espetaculares, sem arroubos emocionantes, sem movimentos bruscos. Um arroz com feijão bem feito parece ser a receita predileta da campanha petista, cujo coordenador em tela acha que já esgotou sua cota de tiros no pé.
"Demos todos os que tínhamos direito." Por exemplo, o registro na Justiça Eleitoral do documento "A grande transformação" aprovado em congresso do PT, como programa de governo, com restrições à liberdade de imprensa e violações ao direito de propriedade entre outros pontos eivados daquele modo todo especial que o PT tem de espantar eleitor em seus momentos xiitas.
Justo com Dilma, que não pode, segundo avaliação interna, dar margem a interpretações de que se eleita fará um governo marcadamente de esquerda. "Se Lula não pôde, ela muito menos. Não terá espaço para concessões à esquerda."
Pelo mesmo raciocínio do quanto mais frio melhor, boa parte do estoque de tiros no pé foi gasta nos primeiros 15 dias depois que Dilma deixou o ministério.
Ela vestiu o figurino de combate, "acreditou" no papel e saiu de pau e pedra para cima do então pré-candidato do PSDB, José Serra. Respondia a tudo, polemizava, fazia frases ("lobo em pele de cordeiro"), brigava sozinha, perdia o embate para si e o tucano só fazendo pose de bom moço.
Não falava mal de Lula e chegou a espalhar pânico nas hostes inimigas. "Ele estava assustadoramente perfeito."
O que foi assim tão perfeito? A atitude amena, que deixava os petistas na difícil situação de precisar criticar um adversário que elogiava o presidente. Foi na época em que Dilma repetia que Serra era ambíguo sobre ser ou não oposição. "Era um rebate fraco, nada convincente."
De acordo com a análise do comando petista, as coisas melhoraram depois que a candidata parou de responder a José Serra e ao mesmo tempo o tucano endureceu o discurso.
Na campanha governista o que se diz é que quanto mais oposicionista Serra se mostrar, melhor para Dilma.
Isso tanto pode ser a mais pura verdade como pode ser também um truque para levar o oponente para o lado que mais interessa.
Como distinguir? Impossível, melhor mudar de assunto.
Falar, por exemplo, sobre a expectativa em relação ao programa do horário eleitoral que estreia daqui a dez dias.
O centro dessa questão obviamente é o presidente Lula. A campanha quer dosar sua participação. Nem tanto que faça a candidata desaparecer nem tão pouco que não seja suficiente para dar uma deslanchada nas pesquisas.
Mas Lula em qualquer dose não é bom?
Depende.
O QG petista cita o exemplo recente da campanha para a prefeitura de Belo Horizonte. Tanto o então governador Aécio Neves e o então prefeito Fernando Pimentel apareceram na propaganda que o candidato Márcio Lacerda sumiu. Por pouco não perdeu a eleição.
Portanto, overdose de Lula nem pensar. São 45 dias de programas. Será feito um teste: dependendo do resultado nas primeiras duas semanas, a participação do presidente aumenta ou diminui.
Retomando aquela ideia do início de que a "eleição está ganha" se tudo transcorrer em ambiente morno o que contraria o argumento de que a agressividade da oposição favorece Dilma , vamos conferir as contas em relação à possibilidade de vitória no primeiro turno.
Há dois tipos de avaliação. A da maioria, mais otimista, aposta em 50% de chance. A do nosso interlocutor, porta-voz dos prudentes, cai para 5%.
Cálculo de gato escaldado, lembrando que em 2002 e 2006 as pesquisas indicavam vitória de Lula no primeiro turno e nas duas vezes a eleição foi decidida no segundo.
Temente a água fria, não se ilude facilmente: "Eleição engana muito a gente."
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