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Conhecida pelo alto grau de exigência no trabalho e pela forma nem sempre gentil de cobrar efi­­­ciên­­­cia total, Dilma Rousseff agora se vê na posição inversa. Cristã nova na política, ela vai precisar que seus pares tenham paciência para lhe ensinar os caminhos das pedras e uma boa dose de condescendência para compreender e, sobretudo, tolerar nessa fase inicial alguns equívocos.

Por exemplo, deixar-se fotografar sorrindo na visita ao túmulo de Tancredo Neves.

Um político, ou política, com um mínimo de experiência tampouco teria se arriscado a enveredar pelo terreno do trocadilho sugestivo de uma aliança tácita entre o eleitorado do PT e o do PSDB para a formação do voto "Dilmasia" ou "Anastadilma" em Minas Gerais – Dilma Rousseff para presidente e Antonio Anastasia para governador.

Em um lance apenas, a pré-candidata do PT conseguiu fazer uma piada sem graça, sugerir que o ex-governador Aécio Neves, a quem pretendia elogiar, poderia trair o candidato do partido dele, José Serra, menosprezar a candidatura do peemedebista Hélio Costa e ainda ignorar o postulante ao governo do próprio PT, Patrus Ananias.

Por causa da frase mal posta levou uma invertida de Hélio Costa, que respondeu sugerindo apoio a José Serra – "Que tal Serrélio?" –, e foi desmentida pelo candidato de Aécio a governador. "Essa expressão (junção de Dilma e Anastasia) não tem amparo na realidade", disse ele, a quem era dirigido o agrado.

É evidente que esse tipo de coisa não compromete a aliança com o PMDB, nem significa que Hélio Costa vá, por causa da declaração de Dilma, mudar de posição e fechar com o PSDB. Se tiver de fazer isso mais à frente será por causa de decisões do PT mineiro.

Mas são atitudes que comprovarão o amadorismo da candidata no ramo se somadas a atitudes da mesma natureza daqui em diante.

Isso mina a credibilidade dela, subtrai sua capacidade de liderança junto aos partidos aliados e levanta a desconfiança sobre a possibilidade de Dilma, uma vez eleita presidente, conseguir se articular com o Congresso.

É verdade que o presidente Luiz Inácio da Silva parece entender que esse papel cabe a ele cumprir. O problema é que cabe até certo ponto. A candidata é Dilma.

Daqui em diante ela andará mais e mais por conta própria. Terá de responder a perguntas muitas vezes capciosas, com potencial de consequências nem sempre perceptível a olho nu para quem não tem um bom tempo de estrada.

Lula e Ciro Gomes mesmo quantas vezes não disseram que quando concorreram de outras vezes à Presidência da República quando eram menos experientes não estavam preparados?

Em sua despedida do governo, Dilma assegurou que estava. Garantiu que participaria de debates, que a vida a preparara para dificuldades e que, se passara pelo período da ditadura quando era tudo mais difícil, não seria na democracia que encontraria obstáculos.

Perfeito. Em tese. Mas o primeiro teste no giro por Minas Gerais indicou à pré-candidata que a autoconfiança será mais bem aproveitada se a ela forem acrescentadas horas de aprendizado duro no exercício de fazer política. Um ofício que requer prática e habilidade específica.

Voltemos ao caso da declaração de Minas. Se Dilma planejava fazer um agrado ao candidato do PSDB, caberia combinar a jogada antes com o parceiro de fato, o PMDB, avisando também ao PT.

Quanto à explícita sedução para o lado de Aécio Neves, o problema é que foi explícita demais. Ofensiva até. Se a ideia era semear a cizânia na seara tucana, o efeito obtido foi o oposto, pois obriga os alvos dos elogios a recusarem em público as fidalguias e a reafirmarem, como fez Anastasia, que ficarão cuidando de suas vidas exatamente onde estão.

Resumindo, Dilma Rousseff precisa melhorar a performance. Na estreia solo riu na hora errada, repetiu uma piada que já não combinava com o contexto, foi repreendida pelos aliados, tentou agradar aos adversários e ouviu um "não muito obrigado".

É noviça e por isso mesmo não pode ser rebelde. Nem autossuficiente.

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