O ensurdecedor silêncio do vice-presidente Michel Temer, durante a semana da crise nos Transportes, foi ouvido com desconforto no Palácio do Planalto.

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Ficou a sensação de que foi proposital, que o vice prefere manter distância das bolas divididas para não atrapalhar os planos do líder do PMDB, deputado Henrique Eduardo Alves, cujo propósito primordial é se eleger presidente da Câmara em 2013.

Em nome desse objetivo, Alves faz qualquer coisa para agradar ao PT: até submeter-se à tola celebração da parceria entre os dois partidos com bolo e bonequinhos de Dilma e Temer presidindo os confeitos.

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A impressão do Planalto sobre o mu­­tismo do vice não é infundada. Mas digamos que seja in­­com­­pleta.O panorama visto sob a ótica do PMDB inclui outros fatores.

Apartado das decisões de governo a respeito das quais é no máximo comunicado, mas nunca chamado a debater, Temer na verdade não teria o que dizer sobre a confusão com o PR.

Em boa medida porque, se é mantido a distância, não detém todas as informações e tampouco sabe de onde a presidente Dilma Rousseff parte e aonde quer chegar.

Por exemplo, quando faz de­­missões a conta-gotas no Ministério dos Transportes e sempre pautadas não por um roteiro previamente delineado pelo governo, mas a reboque de denúncias da imprensa. Outro aspecto que leva Temer a recolher-se à condição de coadjuvante silente diante do enrosco é a situação de seu partido, onde começa a vicejar a semente da discórdia.

Há insatisfação no Senado que resulta na tentativa de um grupo de peemedebistas de quebrar a hegemonia da trinca José Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá na interlocução com o governo e impedir que Renan venha a suceder a Sarney na presidência da Casa.

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Há o grupo, ainda amplamente majoritário, que segue Henrique Alves na tarefa de manter as aparências para não provocar abalos no acordo sobre a troca de comando na Câmara, mas há também duas boas dezenas de insatisfeitos na bancada de 80 deputados do PMDB.

Gente que está enxergando crise à frente e, por isso, vendo a ne­­cessidade de as divergências serem tratadas com seriedade. De forma a impedir o acúmulo de passivos que venham a explodir mais adi­­ante.

Com alguma força nas eleições municipais, que em muitas cidades colocarão em campos opostos os dois principais sustentáculos partidários do governo.

Com a intensidade de um terremoto na eleição para as presidências da Câmara e do Senado. É cedo para falar disso? A julgar pelo potencial de eventual estrago, já se faz tarde.Pelo seguinte: PMDB e PT acertaram que este presidiria a Câmara agora e aquele a partir de 2013. O acerto, contudo, não inclui o Senado, onde o PMDB tem a maior bancada.

O PT deixará que o parceiro impere absoluto no Congresso? Claro que não, mas mais claro ainda é que o PMDB não abrirá mão. Está, portanto, montado desde já o cenário do esfaqueamento.

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Briga de foice esta que se não for tratada na base da relativa franqueza, com as divergências sendo resolvidas à luz da maturidade – o que não inclui convescotes ao redor de um bolo de noivos –, tem tudo para degenerar em "bolo" no sentido de crise.

E aí vai ser preciso bem mais que fazer "uma social" de vez em quando com senadores e deputados oferecendo-lhes coquetéis, jantares e os chamados "afagos".

Além de não adiantar nada cria a falsa impressão de que o contraditório se resolve com agradinhos.

Vai ser necessária arbitragem por parte do fiador da aliança. Dilma ou Lula, a depender da disposição da presidente de transferir ou não o poder a ela conferido na eleição.

Seja como for, a bem do bom senso conviria à presidente, ao vice e companhia deixar de lado a hipocrisia e encarar a vida em uma coalizão como ela de fato é.

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Em aberto

Lula já falou de tudo um pouco desde que deixou a presidência. Só não disse ainda como pretende "desmontar a farsa do mensalão", conforme anunciado.Chance não faltou de rebater ponto por ponto a peça de acusação recentemente apresentada pelo procurador-geral da República.