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A decisão da presidente Dilma Rousseff de trocar os líderes do governo na Câmara e no Senado não encerra mistério: é dela a prerrogativa de escolher para essas funções pessoas que cumpram os requisitos de confiança e afinidade.

Se não atendem ou a partir de determinado momento deixam de atender ao que convém ao governo, a substituição é o movimento natural. Até aí, tudo nos conformes.

Resta nebuloso, entretanto, o nome do jogo que a presidente pretende disputar com profissionais de um ramo no qual ainda é aprendiz. Se Lula não operar no bastidor, ela entra em desvantagem.

Dilma quis tirar Romero Jucá para afirmar autoridade ante a derrota comandada pelo PMDB em votação no Senado e, no embalo, aproveitou para livrar-se de Cândido Vaccarezza na Câmara cravando uma na ferradura do PT para ser "justa"?

Pode ser, mas não tem muita lógica. O problema não está nas pessoas, mas nos procedimentos, na maneira como a coisa vem funcionando. Mal. O atrito não é causa, é consequência de um conjunto de insatisfações.

Sendo elas generalizadas – prova está na manifestação pluripartidária de contrariedade – e em boa medida oriundas da forma de Dilma Rousseff governar, não podem ser resolvidas com providências pontuais e/ou desconectadas da natureza da questão.

Se a intenção da presidente foi dar à base um sinal "exemplar", cumpre ao seu entorno informá-la de que confrontos com o Congresso podem até render pontos favoráveis nas pesquisas de opinião, mas não são construtores da harmonia necessária ao bom andamento dos trabalhos presidenciais.

Mesmo em se tratando de um Parlamento subalterno, não se pode perder de vista o potencial de oportunidades existentes ali de se produzir danos ao Executivo. Muito mais que o contrário.

Há casos na História. Para só citar um recente guardando as proporções, pergunte-se a Fernando Collor se hoje repetiria o exercício de imperialismo na relação com o Congresso se lhe fosse dada uma segunda chance na Presidência.

Na queda de braço alguém termina machucado. E nas coisas de poder sempre cabe ao mais poderoso moderar o uso da força, pois ao fim e ao cabo é quem tem mais a perder.

Trocar Romero Jucá para dar uma traulitada na tríade formada por ele com José Sarney e Renan Calheiros, convenhamos, não é má ideia. Mas, do ponto de vista objetivo da Presidência, é preciso pesar perdas e ganhos.

Alguém tem dúvida de que mais dia menos dia as cobras mostrarão a letalidade do veneno em que foram criadas? Dilma bateu de frente. Corre o risco de levar o troco pelas costas.

O clube do "te pego na esquina" desde ontem tem nova diretoria: Jucá, Renan e Sarney. Este logo bate em retirada e os dois primeiros, assim como dois terços do Senado, têm sete anos de mandato pela frente. Mais que o dobro dos três que restam a Dilma.

Objetivamente não tem nada a temer nem a perder. Uma dúzia de cargos? Se acharem que vale a pena, não hesitam e pagam para ver.

Vaticínio

Às 22 h de segunda-feira, véspera de sua destituição da liderança do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza avisou a um interlocutor: "O Congresso vai virar um inferno".

No mesmo dia ligou para o ex-presidente Lula, que disse não ter sido consultado por Dilma a respeito das trocas na Câmara e do Senado.

Mal comparando

A renúncia de Ricardo Teixeira à presidência da CBF lembra os parlamentares que costumavam – quando ainda havia o costume de temer punições – abrir mão dos mandatos para evitar abertura de processos por quebra de decoro.

Mérito

Veja o leitor como andam as coisas: Afonso Florence deixa o Ministério do Desenvolvimento Agrário bem na foto pelo simples motivo de ter sido demitido "apenas" por, digamos, déficit de desempenho.

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