Se a vontade era de largar tudo, deixar o partido onde não tinha mais espaço e de novo disputar a Presidência da República desta vez pelo PPS, a racionalidade se impôs na decisão de José Serra de ficar no PSDB. Pesados e medidos os fatores favoráveis e os desfavoráveis, a conclusão foi a de que, para tentar derrotar o PT, ele contribuiria mais para o reforço do time da oposição ficando e percorrendo o país com discurso crítico ao governo Dilma Rousseff.
Na realidade nua a crua não haveria vantagem em sair. Sem tempo suficiente de propaganda na televisão, com dificuldade de alianças e os obstáculos daí decorrentes para o financiamento da campanha, a possibilidade de ganhar era praticamente nula. Além disso, se já era pequena a chance de Serra levar consigo outros tucanos ela deixou de existir quando a fusão do PPS com o PMN não deu certo. Parlamentares que deixassem o PSDB estavam arriscados a perder o mandato em função da regra da fidelidade partidária. Sair sozinho não faria sentido.
Com a agravante de que uma possível candidatura presidencial dividiria os votos oposicionistas e reduziria a chance de o PSDB ir ao segundo turno. Serra seria responsabilizado por isso, ainda que o senador Aécio Neves não caísse no gosto do eleitorado por outras razões.
O que os tucanos não dizem publicamente é que houve uma pressão pesadíssima para que ele não saísse. O discurso oficial era o da indiferença, mas a prática interna foi no sentido contrário: o de convencê-lo a ficar, emprestando potencial eleitoral e patrimônio profissional ao partido. Isso em âmbito nacional, mas também e principalmente em São Paulo onde esse capital é tido como fundamental tanto para a reeleição do governador Geraldo Alckmin quanto como alavanca à candidatura de Aécio Neves.
José Serra, com tantas arestas e conflitos mútuos acumulados, participará efetivamente da campanha? Segundo aliados, precisa participar. Ao jeito dele e da maneira que considerar melhor para preservar espaços de atuação que haviam sido subtraídos e agora podem começar a ser retomados.
Por exemplo: nas pesquisas de opinião realizadas pelo PSDB, o nome de Serra deve ser incluído. Isso não significa que hoje existe a possibilidade de o partido trocar de candidatura. O nome continua sendo o de Aécio Neves. Mas, como não se sabe o dia de amanhã e as pesquisas atuais não estão exatamente maravilhosas para as candidaturas de oposição, sempre existe uma possibilidade remota de alteração no jogo.
Essa "brecha" por ora meramente hipotética permite que Serra seja exposto no noticiário com mais destaque. Não por outro motivo o único acerto feito entre ele e Aécio nas tratativas que antecederam a decisão foi o de que não haverá oficialização da candidatura presidencial antes de abril ou maio de 2014.
Lenitivo
Um velho truque de governantes quando têm um grande problema difícil de ser resolvido é tomar uma medida que dê ao público a sensação de solução. Assim atua o governo federal com a importação de médicos. A saúde pública continua precária, mas o que fica para a população é a ideia de que alguém fez alguma coisa. Alivia a alma e, ainda que não cure os corpos, rende votos.
Para todos
Na berlinda sobre a propriedade de sua aplicação em tribunais de última instância, os embargos infringentes necessariamente terão em algum momento de ser tema de debate no Supremo Tribunal Federal: continuam ou não a figurar no regimento interno? Mas, na opinião de um ex-ministro do STF, o assunto terá ao menos de esperar o julgamento do mensalão mineiro. "Se não, vai parecer casuísmo".
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Deixe sua opinião