Os correligionários do governador de São Paulo e postulante à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, não têm mais do que reclamar: ele dança, toca corneta africana, inspeciona maquete, inaugura placas de obras ao molde três em um e, como bom candidato, nega qualquer relação com a candidatura a ser oficializada no próximo dia 10 de abril. Talvez a alegada "falta de tempo" guarde relação com algum fato ainda desconhecido.
Depois de meses resistindo às pressões de seus aliados para que liderasse a oposição na condição de candidato a presidente, porque considerava contraproducente tentar concorrer com os instrumentos de poder do governo federal, faltando menos de 15 dias para o prazo final, o governador de São Paulo foi de um extremo ao outro, começando a seguir os passos da adversária Dilma Rousseff.
Aderiu à vida como ela é no Brasil, onde o que conta é a batalha da propaganda, do cronograma de obras preparado para coincidir com a proximidade das eleições e das performances que não privilegiam a avaliação do conteúdo dos candidatos, mas buscam ressaltar ainda que de maneira artificial o tal "carisma" de cada um.
Para isso se recorre a qualquer expediente, até a inauguração de obras sob suspeição do Tribunal de Contas da União.
Dentro dos critérios aceitos como bem-sucedidos na política, provavelmente o governador não pudesse mesmo fazer diferente. Nem a ministra Dilma, já que a estratégia adotada pelo presidente Luiz Inácio da Silva "deu certo", como "comprovam" os resultados das pesquisas, independentemente do que isso signifique em termos de educação política para a população.
Construir pontes, hospitais, escolas, linhas de metrô, estradas, complexos viários, redes de saneamento é obrigação do governante. Ocupar todo o tempo pulando de palanque em palanque exibindo-se como se fizesse um favor à população é tirar proveito da boa-fé alheia e exercer a atividade política como se fazia nos tempos do onça. Coisa de coronel do interior.
Dá certo? Até dá, mas não educa, não moderniza e não contribuiu para o avanço da cidadania. Nem ajuda o eleitor a aprender a identificar nos pretendentes a governantes as melhores qualidades substantivas.
Antes incentiva o cacoete da promessa e promove o vício da escolha referida naquilo que o candidato ou candidata será capaz de "dar" à população quando no governo. Não deixa de ser uma aspiração legítima, mas é também a perpetuação da mentalidade do Estado provedor e, quando não vem acompanhada de nenhuma outra exigência ou discussão, é o retrato de uma relação paternalista.
Há quem dê a isso o nome de pragmatismo de parte a parte. Da parte do político pode ser, mas da parte do eleitorado é conformismo. O candidato não precisa ter atributos especiais para fazer obras. Para isso tem o dinheiro do Orçamento e só pela força da inércia as coisas andam por si.
Capacidade de promover o desenvolvimento mesmo, econômico, social, político, humano, moral, tecnológico, é que são elas. É o que faz a diferença, é o que marca o governante que levará o Brasil ao futuro. Não é aquele que tem o melhor padrinho nem o mais robusto portfólio de obras. É aquele, ou aquela, que saberá dizer ao país qual é o bom e moderno caminho das pedras. O resto é conversa com prazo de validade vencida.
Linha torta
José Roberto Arruda não vai recorrer da cassação imposta pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal por infidelidade partidária porque é o melhor que poderia ter-lhe acontecido. Não sendo governador, não tem poder para obstruir as investigações e, portanto, tem chance de ter relaxada a prisão preventiva.
Cassado, não precisa renunciar. Por infidelidade, não perde os direitos políticos e a Câmara Distrital arquiva o processo de impeachment. Agora fica aberto o precedente. Por analogia, quem negociar saída de partido para prevenir expulsão, como ocorreu no caso de Arruda, pode ter o mandato cassado.
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