Se Marina Silva conseguir o registro da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição de 2014, não terá sido pela pressão sobre a Justiça Eleitoral, bem como se não conseguir, a ex-senadora não poderá atribuir o motivo a retaliação do Tribunal Superior Eleitoral às queixas públicas sobre a demora do reconhecimento das assinaturas necessárias à criação do partido.
Na reclamação, Marina deixa implícita a suspeição de que estaria sendo prejudicada por uma aliança entre a burocracia, a má vontade de funcionários e sabotagem política nos cartórios eleitorais.
Se a Rede obtiver registro até 5 de outubro, terá sido simplesmente pelo cumprimento das exigências de acordo com a regra e não pela abertura de uma exceção, como pretende a ex-senadora aparentemente imbuída da convicção de que seus índices de intenção de voto e inequívoco respaldo social justificam o atropelo do manual.
A ex-senadora tem todo o direito de fazer marcação cerrada, a fim de se prevenir dos danos decorrentes dos excessos burocráticos. Além disso, há mesmo esquisitices que dão margem a desconfiança, como a recusa de 73,5% das assinaturas (a média nacional é de 24%) em São Bernardo do Campo, reduto do PT que não esconde a antipatia por Marina e chegou a liderar uma ofensiva malsucedida no Congresso para criar obstáculos legais à existência da Rede.
Nem por isso a ex-senadora dispõe de prerrogativas especiais que a autorizem a esperar da Justiça Eleitoral a concessão de privilégios. Devido ao atraso na validação das quase 500 mil assinaturas necessárias, ela propõe ao TSE que suspenda a verificação individual, publique um edital com todas elas e, se não houver contestação, as aceite como válidas.
No entanto, a base para essa contestação só pode ser o mesmo cadastro que a Justiça Eleitoral usa agora para aceitar ou recusar as assinaturas. O advogado da Rede, Torquato Jardim, sugere que depois, se comprovadas irregularidades, o tribunal poderia suspender o registro que teria, então, o inédito caráter de provisório.
Se já há essa atmosfera de perseguição, é de se imaginar a reação a uma cassação do partido. Portanto, o que se pretende é criar um fato consumado mediante o desvio do padrão legal. Não combina com o discurso de Marina Silva sobre a correção dos meios e dos modos na política.
Na estrada
O governador Eduardo Campos não está perdendo chance de se contrapor à presidente Dilma Rousseff. A mais recente foi o apoio do pernambucano ao diplomata Eduardo Saboia pelo translado do senador Roger Pinto Molina de La Paz a Brasília. "Por dever de consciência tenho de cumprimentar o diplomata que fez isso", disse ele, enquanto a presidente rebatia com rudeza declarações de Saboia e suspendia a indicação do atual embaixador na Bolívia para assumir a representação na Suécia, por suspeita de sua participação na fuga de Molina.
Campos poderia ter se mantido neutro no assunto, mas quis comentar. Calado estava desde as manifestações de junho e calado poderia continuar, mas nos últimos dias desandou a falar. Em reunião com empresários paulistas, na segunda-feira, questionou a capacidade de liderança da presidente e a eficácia das respostas dadas por ela aos protestos. No dia seguinte, gravou entrevista ao Programa do Ratinho uma espécie de estágio probatório para candidatos a presidente e manteve o tom de crítica, desta vez à falta de "traquejo político" de Dilma.
Antes da gravação, ao comentar a movimentação do PSB em torno de sua possível candidatura, declarou que o calendário eleitoral "começa agora". Uma alteração significativa para quem afirmava até pouco tempo que as decisões de 2014 dependeriam do transcorrer de 2013, ano que, nessa perspectiva, para Eduardo Campos já terminou.
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