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Cenografia eleitoral não é prerrogativa dos candidatos às eleições de outubro com estruturas dos Po­­deres Executivos à disposição. Elas são apenas mais evidentes. Os deputados federais usam a Câmara do mesmo jeito, com a vantagem de nem precisar deixar seus mandatos para isso e ainda ficar imunes a críticas.

É o crime perfeito. Ou haverá ou­­­tra razão que não a proximidade da eleição para a Câmara dos De­­­putados incluir agora em sua pauta de votações propostas moralizadoras para as quais não deu a menor bola durante toda a legislatura?

Qual outro motivo faria a Câmara, que nenhuma providência tomou contra a farra das passagens aéreas, sugerir de repente, não mais que de repente, normas mais rígidas para o Conselho de Ética da Casa, um colegiado que outro dia mesmo se lixou para a opinião pública? Só a proximidade das eleições.

A questão dos chamados fichas-sujas é típica. A discussão foi levantada antes da eleição municipal de 2008. Não se conseguiu estabelecer nenhum impedimento nem mesmo que os candidatos, antes tão interessados em debater o assunto, levassem o tema a debate durante a campanha.

Passadas as eleições, em 2009 foi apresentada uma emenda popular com 1,6 milhão de assinaturas, que a Câmara simplesmente ignorou. Apenas neste ano foram realizadas audiências públicas e, mediante muita insistência e meia dúzia de deputados, o presidente Michel Temer concordou em marcar o início da votação para o dia 7 de abril.

Naquela data serão consultados os líderes dos partidos. Depois disso, haverá consultas às bancadas. Aí, então, votação em plenário. Tudo correndo nos conformes, o mês de abril, concluiu-se o processo. Em maio, a emenda vai para o Senado. Óbvio que um assunto dessa natureza não passará sem alterações.

Portanto, voltará à Câmara. Em junho, os partidos estarão ocupados com as convenções para escolha de candidatos a presidente, governadores, deputados e senadores. Em julho, recesso parlamentar e Copa do Mundo. Em agosto, começa a campanha e dificilmente alguém aparecerá em Brasília para votar coisa alguma.

É de se perguntar: se a proposta estava no Congresso desde o ano passado por que dar andamento a ela em cima da hora? Só pode ser por estratégia. Porque não dá tempo. Porque ninguém quer aprovar, mas todos querem faturar as boas intenções.

O mesmo ocorre com as mudanças "rigorosas" nas regras do Conselho de Ética. Em 2009, a Câmara viveu o ano inteiro em crise, do começo ao fim. Nada fez a não ser celebrar o compadrio, desmoralizar o decoro, livrar todos os que estiveram implicados em complicações de natureza ética.

Às vésperas das eleições, faltando três meses para o início da campanha propriamente dita, é que suas excelências acha­­­ram por bem dar uma sa­­tisfação à opinião pública.

Deveriam ter pensado nisso antes e dedicado ao menos parte dos quatro anos de mandato aos bons combates. De preferência de interesse coletivo.

Agora é tarde. A sorte está lançada. Pode ser que seja tudo como dantes e a lassidão prevaleça. Ou pode ser que não, que desta vez quem se lixe seja a opinião pública, cansada de se deixar enganar.

Panaceia

O fato de o deputado Ciro Gomes não ser o inventor não o desqualifica como porta-voz da recorrente proposta de um governo de coalizão entre PT e PSDB. A intenção é das melhores. O problema é a suposição de que os dois partidos detenham o monopólio da decência e que nos outros grasse a safadeza, sem exceções.

A história atesta o oposto, e supor diferente é fazer aliança com o equívoco. Homens e mulheres de bem e do mal, óbvio, há em toda parte.

Basta ver como se imaginava que os civis uma vez assumindo o poder com a redemocratização, reorganizado institucionalmente o país mediante a Assembleia Nacional Constituinte tudo estaria resolvido.

Mal sabíamos que conquistávamos a democracia, mas era preciso saber o que fazer com ela.

Assim é com a relação governo-partidos-sociedade. Não basta juntar os que nos parecem mais distintos e achar que está tudo resolvido porque não está.

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