"O que vocês estão achando?" Por "vocês" entenda-se a imprensa como sujeito da indagação recorrente de ministros do governo Dilma Rousseff e que traduz a preocupação com a receptividade à presidente nestes primeiros dias.
Há entre eles uma evidente expectativa quanto à distensão do ambiente animoso que permeava as relações do antecessor com os meios de comunicação, notadamente os mais críticos, e uma inquietação a respeito do tempo de duração daquilo que auxiliares de Dilma chamam de "lua de mel".
Constatam que a presidente tem provocado boa impressão e reconhecem que isso decorre dos excessos verbais do ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Em público, Lula só recebe elogios da equipe da nova presidente, como se pôde constatar em todos os discursos de posse (incluído o de Dilma) dedicados, com raras exceções, a celebrar a figura do antecessor.
Reservadamente, porém, revela-se a avaliação interna de que, a despeito de todas as vitórias conquistadas, o estilo do ex-presidente cansou. "Ninguém aguentava mais", admitem dois novos frequentadores do Palácio do Planalto.
Note-se que isso não significa que Lula seja deixado de lado. Ele continua a ser personagem central do projeto de poder do PT e a atuação dele é considerada imprescindível no embate político com a oposição, especialmente em épocas de disputas eleitorais. Seja como candidato, articulador ou animador.
Mas para o bom andamento dos trabalhos governamentais considera-se essencial que o ex-presidente prolongue ao máximo a quarentena. A presença de Lula no noticiário atrapalha Dilma.
Prova é a notícia da concessão de passaportes diplomáticos a dois filhos e a um neto do ex-presidente, sob a alegação de que isso atende aos "interesses do país", obrigando o governo a começar sob a égide da improbidade cometida pelo antecessor.
Obviamente interessa apenas à família da Silva, mas, assim como vários outros episódios demonstraram ao longo de oito anos, é do estilo de Lula considerar irrelevante o preceito da impessoalidade consagrado na Constituição como exigência para o exercício das funções públicas.
Dizem os auxiliares que com Dilma não há risco desse tipo. Até porque há a consciência de que, diferentemente de Lula, ela não conta com o anteparo da trajetória histórica, da capacidade de mobilizar emoções e da habilidade em usar a origem humilde para transformar as críticas aos seus atos em "preconceito", para sair sempre ilesa das situações difíceis.
Sendo assim, será muito mais cobrada por resultados, não poderá mascarar a falta deles com lances de natureza emocional. Inclusive por uma questão de personalidade.
Entre suas características sua equipe inclui a discrição pessoal, formalidade, disciplina, racionalidade, pontualidade, vocação para detalhes, gosto por assuntos administrativos e cobrança de metas.
O oposto do antecessor. Na primeira semana, por exemplo, a agenda presidencial divulgada foi cumprida à risca e os compromissos todos mantidos nos horários.
No quesito aparições externas, dizem os auxiliares que Dilma fará discursos apenas quando for necessário e nunca de improviso. Suas falas serão elaboradas sob a supervisão do ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.
Entrevistas coletivas, só raramente. A presidente pretende estreitar suas relações com a imprensa por meio de encontros com grupos de jornalistas e até conversas informais em que as declarações não necessariamente são utilizadas de maneira oficial.
A relação com os partidos também será mais "litúrgica". Do chamado varejo (as demandas de parlamentares) cuida o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Da "grande política", Palocci.
Uma peculiaridade: o argumento partidário não sensibiliza a presidente. Isso inclui PT e aliados. Traduzindo: Lula às vezes não gostava de algum ministro, estava insatisfeito com o desempenho ou mesmo aborrecido com condutas erráticas, mas relevava por causa de conveniência partidária.
Com Dilma Rousseff, asseguram assessores, prevalece a qualidade do serviço, e por isso é que se diz que o atual ministério é "datado" em um ano de tolerância.
A conferir.
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