O horário reservado aos candidatos para campanha eleitoral no rádio e na televisão começa no dia 17 de agosto. É o que determina a lei. Mas, como dizia Getúlio Vargas para caçoar dos empresários que transgrediam a legislação trabalhista, "a lei, ora a lei".
Seguindo à risca a essência desse preceito, o presidente Luiz Inácio da Silva inaugurou o horário eleitoral de 2010 na quinta-feira, 14 de maio.
Usou o espaço reservado à propaganda do PT para apresentar a biografia, os feitos no governo da pré-candidata à Presidência da República, Dilma Rousseff, e para estabelecer comparações com o governo anterior fazendo citações repetidas de Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Um modelo idêntico ao dos programas eleitorais. Não se pediu votos, mas nos programas mais bem elaborados tampouco há esse pedido explícito, a não ser nos últimos já às vésperas das eleições.
Isso tudo aconteceu no exato momento em que o Tribunal Superior Eleitoral condenava em termos duríssimos um outro programa do partido feito quase nos mesmos moldes, embora bem mais amenos, apresentado no fim de 2009.
A decisão de aplicar a multa de R$ 20 mil ao PT foi unânime. A maioria multou Dilma em R$ 5 mil, voto vencido do ministro Marco Aurélio de Mello, favorável à penalidade de R$ 20 mil também para a pré-candidata.
Estava especialmente perplexo. Disse nunca ter visto "nada parecido" em termos de transgressão nas três vezes em que acompanhou eleições na condição de magistrado, nos últimos 19 anos.
Pois o Brasil acabara de assistir a infrações bem mais explícitas no programa que, por atraso do TSE provocado justamente pela posse de Marco Aurélio pela terceira vez como ministro do tribunal acabou indo ao ar indevidamente.
Pelo seguinte: em função de ter transformado o programa partidário de dezembro de 2009 em programa eleitoral, a penalidade seria a perda do direito ao uso do mesmo espaço (10 minutos) no ano seguinte. Por causa do atraso, o PT perdeu o programa partidário de 2011.
Quer dizer, investiu no abuso e ganhou.
E ainda há entre petistas a versão corrente de que a Justiça impõe censura prévia ao partido quando, na realidade, acabou sendo beneficiado pelo atrevimento.
Ultrapassa o limite da legalidade à vontade, mas se é punido alega que há "judicialização" nas eleições, que o adversário quer ganhar "no tapetão". Não demora, haverá acusações de que a Justiça Eleitoral conspira contra a candidatura governista.
Um episódio dessa natureza já seria grave. Torna-se gravíssimo quando se apresenta como reincidência deliberada. Assume proporções escandalosas do ponto de vista institucional quando à frente desse tipo de ofensiva está ninguém menos que o presidente da República.
O homem que por duas vezes tomou posse como chefe da nação, jurou cumprir a Constituição do país, mas desobedece de maneira zombeteira a uma simples lei eleitoral.
Durante o julgamento de quinta-feira o ministro Marco Aurélio de Mello alertou que o somatório de infrações pode ter consequência mais à frente. Óbvio, o primário não é tratado pela Justiça com a mesma benevolência que o reincidente.
Se a candidatura de Dilma Rousseff vier a ser agravada, seus correligionários não podem se dizer surpresos, pois terão sido vitimados por seus reiterados desacatos à prudência, à lei e à Justiça do país.
E quando o pré-candidato de oposição, José Serra, diz que Lula está acima do "bem e do mal" avaliza suas atitudes e invalida as reclamações do PSDB contra o programa do PT, pois se considera o presidente superior a qualquer valor aceita também que esteja acima da lei.
Tudo entendido
O "caso" do filme Tropa de Elite 2 e a Câmara dos Deputados é bem menos ruinoso do que parecia e está encerrado. Primeiro, o presidente da Casa, Michel Temer, não proibiu as filmagens no plenário por decisão autocrática.
É uma regra geral, explicada e devidamente aceita pelo cineasta José Padilha. Segundo, as reclamações do deputado Alberto Fraga a respeito do nome de um dos personagens do filme ("Fraga"), foram encaminhadas à procuradoria da Casa como mero ato burocrático.
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