Vista assim do alto, a questão parece simples: a direção nacional do PT quer se juntar ao prefeito Gilberto Kassab na eleição de São Paulo. Parte dos dirigentes regionais e a militância em geral rejeitam a aliança e isso põe o partido no rumo da divisão irremediável.

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Até faz sentido, mas o raciocínio parte de premissa errada e, portanto, chega a uma conclusão equivocada sobre um partido cujo projeto de poder funciona como firme amálgama e o acúmulo de vitórias cura todas as feridas.

O processo que levou à eleição de Dilma Rousseff e a "escolha" de Fernando Haddad para candidato a prefeito de São Paulo à revelia inicial de significativas correntes petistas são provas materiais.

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Com a ascensão ao poder nacional, o PT deixou de lado a prática, ficando apenas com a veleidade de ser de esquerda.

Desde então, navega aqui e ali a bordo do discurso de antigamente enquanto radicaliza na "flexibilização" dos parâmetros de sua política de alianças.

Com isso, abandonou a tradição da divisão esquerdista em contraposição à propagada unidade de ação das forças classificadas como de centro ou de direita, seja lá qual for o significado dessa escala hoje em dia.

Em suma, vai errar quem apostar em racha no PT, assim como se equivocam os que fazem elucubrações sobre incompatibilidades políticas entre Lula e Dilma.

O plano de ocupação de todos os espaços disponíveis, possíveis e impossíveis no espectro político não abriga indisciplinas nem considera ideologias ou coerências. É puramente pragmático.

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Por isso mesmo o minueto em cartaz entre Kassab e o PT tem dimensão muito mais nacional que propriamente municipal. Sintomático que o prefeito tenha escolhido ir à festa dos 32 anos do partido em Brasília e não à comemoração feita em São Paulo.

Revelador que sido vaiado pela plateia e aplaudido pelos que estavam no palco. Os revoltados consideravam a visita um acinte, mas raciocinavam a partir dos dados do cenário municipal.

Este, de fato, tende a ser desfavorável em função da existência de um fator determinante: a opinião do público.

Na festa, quem aplaudia olhava o visitante como quem mira uma peça preciosa no jogo de expansão e consolidação de hegemonia na política nacional.

Mal comparando, conforme funcionou na velha Arena a quem todos se rendiam por força do autoritarismo, aqui substituído pelo canto da sereia do puro e simples governismo.

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Se ficar muito difícil fazer a aliança para a eleição de 2012 com Gilberto Kassab, o PT não fará. Tem condições de ganhar sem a companhia do prefeito e talvez até chegue à conclusão de que a união formal seja contraproducente.

Na questão imediata, Kassab também tem outras saídas. Mas no plano nacional ambos desenvolvem um interesse mútuo.

O PT no PSD de mais de 40 deputados e "plantado" em alianças com todos os partidos e em todos os estados. Kassab em participar da onda expansionista para garantir um lugar ao sol quando – e se – não sobrar território fora da área de influência dos atuais donos do poder.

Música e política

Sai em maio, pela Nova Fronteira, o primeiro volume de Quem foi que inventou o Brasil, resultado de uma pesquisa de mais de 15 anos feita pelo jornalista e ex-ministro Franklin Martins sobre músicas que retratam circunstâncias, fatos, períodos e movimentos políticos no Brasil entre 1902 e 2002.

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São dois livros (o segundo deve ser lançado em setembro) com 700 páginas e cerca de 400 verbetes cada um, acompanhados de um DVD com as gravações das canções, todas referidas na vida política do país.

O primeiro vai do início do século – com a música As la­­­ranjas de Sabina, de Arthur Aze­­­vedo, que relata revolta de estudantes pró-República em 1889 – até 1964, com a Marcha da Quarta-Feira de Cinzas, de Vinícius de Morais e Carlos Lyra, composta em 1963 e considerada premonitória do clima que tomaria conta do Brasil com o golpe militar.