Convencionou-se no mundo político que, a princípio, qualquer tipo de aliança partidária é uma boa jogada. Ainda que algumas se assemelhem a casamentos de jacarés com cobras dágua. A lei permite que seja assim. Mas permite porque os senhores parlamentares decidiram mudar a Constituição para que assim passasse a ser permitido. Foi em 2006. Desde então, virou letra morta a obrigação dos partidos de reproduzirem nas eleições estaduais as alianças feitas para a disputa presidencial.
Derrubada a chamada verticalização, ficou institucionalizada a balbúrdia partidária. Cada um faz o que bem entender. Ninguém pode reclamar de ninguém, pois não há quem esteja incorrendo em ilegalidade. Muito embora seja tudo muito questionável sob o aspecto da legitimidade.
O assunto é recorrente. Sua abordagem justifica-se a cada eleição porque a prática da geleia geral é permanente e pelo visto perene. Reforma política? Pois sim. Da boca para fora raros são os políticos a defender a liberalização geral tal como está hoje em vigor. A maioria teoriza a favor da organização "vertical" como forma de fortalecimento dos partidos.
Na prática a conversa é outra. Primeiro porque suas excelências não sossegaram enquanto não derrubaram a interpretação constitucional da Justiça segundo a qual os partidos, tendo caráter nacional, conforme determinou o legislador constituinte, precisam necessariamente uniformizar nacionalmente suas coligações. Em segundo lugar, e principalmente, porque a situação do cada um por si é extremamente confortável para todos. Se o eleitor não entende coisa alguma dessa salada indigesta, pior para o eleitor. Vire-se e vote.
Neste ano não será diferente. A situação apenas vai se repetir de maneira mais acentuada país afora em decorrência da insatisfação dos partidos ditos governistas com a candidata à reeleição e dos índices de popularidade adversos da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas.
O mais provável é que ela tenha uma aliança formal ampla, com grande tempo no horário eleitoral. E aí termina o compromisso dos partidos. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o PP fica com a candidata que apoiará Aécio Neves e o PMDB com o candidato que fará campanha para Eduardo Campos. No Rio, o governador peemedebista assegura apoio a Dilma e o controlador de fato do PMDB põe os correligionários em busca de votos para o tucano Aécio. Em São Paulo temos o ex-prefeito Gilberto Kassab hoje em dúvida entre manter a candidatura ao governo ou concorrer a vice do PMDB ou do PSDB de Geraldo Alckmin.
O inusitado desta última hipótese é que Kassab, Alckmin e Aécio nos últimos tempos diziam-se desafetos assumidos. Os tucanos, no entanto, concluíram que precisam do PSD para enfrentar o PT e o ex-prefeito vê com naturalidade a reaproximação. E onde ficam as antigas críticas? Arquivadas em nome da eleição. Diga-se, não são os únicos. Mas, se aceitar compor a chapa com Alckmin tendo acertado apoio a Dilma, como Kassab ficará em relação à candidatura presidencial de Aécio em São Paulo? Simples, não irá ao palanque da presidente. Na opinião dele, nenhum problema. "No Brasil todo vai ser assim." Eis o problema.
Meirelles
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles foi de fato procurado pelo tucano Aécio Neves depois que publicou um artigo com críticas à política econômica do governo Dilma. Não será, contudo, vice porque o apoio do PSD à presidente está fechado.
Isso não impede que Meirelles venha a declarar apoio pessoal ao PSDB. Kassab não será obstáculo.
Bem observado
Constatação de um espectador profissional da cena política: há dois tipos de "volta, Lula". O do PT tem medo que Dilma perca a eleição e o do PMDB tem medo que ela ganhe.
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